Ha dois annos escrevi essa historia, lenda ou que lhe quizerem chamar, a que puz o nome de — A Casa Negra — Escrevi-a e atirei com ella para o fundo d'uma gaveta da minha secretaria.
Lembrei-me de lhe dar publicidade, não pelo merecimento do escripto que nenhum encerra, mas sim para tornar mais conhecida a rude singelesa que caracterisa ainda os aldeãos de Tras-os-Montes.
De semana em semana, de mez em mez, fui addiando este meu designio quasi dois annos!
Ultimamente, entre alguns livros que mandei vir, deparo com um romance do snr. Luiz Augusto Rebello da Silva, intitulado: — A Casa dos Fantasmas. — Li com curiosidade, porque se não bastasse o nome do author, a epigraphe é tambem um incentivo a despertal-a.
O meu interesse cresceu, quando deparei com uma Casa Negra, no romance do snr. Rebello da Silva!
Renovou-se-me o desejo de publicar o meu pobre escripto, mas agora fazendo-o, sem esta explicação, podiam suppôr que eu fui roubar ao excellente romance do snr. Rebello da Silva, a sua Casa Negra, povoada de fantasmas, e cheia de tradicções horrorosas.
Algumas pessoas diziam-me que mudasse o titulo á minha producção, mas eu não acceitei o conselho, porque queria conservar á minha pequena obra o nome, e a fórma permittiva que lhe dei; e tambem entrava n'esta repugnancia á «crisma», um bocadinho de vaidade, por que eu tenho desvanecimento em ter tido um pensamento litterario, alguma coisa semelhante ao do abalisado e mimoso escriptor.
E quem sabe se nos mesmos dias em que s. exc. escrevia — A Casa dos Fantasmas — eu escreveria também — A Casa Negra ?! — Isto que fica dito não é para quem pôr algum termo de comparação no merecimento dos dois escriptos, porque isso seria irrisorio! Foi unicamente para provar a quem ler — A Casa Negra — que eu não plageei o romance do snr. Rebello da Silva.
A Casa dos Fantasmas é um romance lindissimo, com uma linguagem elegante, escolhida, cheia de naturalidade e graça que destingue os escriptos do snr. Rebello da Silva. A Casa dos Fantasmas, é mais uma bonita flôr que se desprendeu dos biccos da sua delicada penna; — A Casa Negra — é.... o que os meus leitores vão ver.
Veiga, 23 de Junho de 1866. Ephigenia Carvalhal.