A uma amiga
 

 

O' quanto s'empenhou a natureza
Em formar-te a mais bella entre as formosas!
Dando-te uma alma pura,
Uns olhos d'encantar! Que gentileza!
Que niveas, rubras faces tão mimosas!
Que rosto de candura!

E como sem vaidade te apresentas,
Nem teu espelho diz quanto és formoza!
Se tu és tão modesta!
Do coração os dotes só ostentas,
P'ra ti só a virtude é valiosa,
Mostras-te sempre honesta!

E quem digno será de possuir-te
N'um mundo seductor, perverso, ingrato
E fruir tua mão?!
Mas ao vêr-te, ninguem póde fugir-te
Sim que na idea leve o teu retrato
E d'amor a paixão!..

Embora! Deixa-os amar-te,
Não te illuda o seu amor.
Que só tem penas a dar-te,
Suspiros, saudade e dôr!..
Deixa livre o coração,
Deixa-o folgar sem paixão;
Goza a tua mocidade
Como os anjos, sempre pura
E volverás com ventura
D'aqui para a eternidade;
Mas se nasceste p'ra amar;
Áma do céo uma estrella,
Aquella que mais brilhar,
Ou ama a flor mais bella
Que no val desabrochou;
Ama a brisa que agitou
Os teus cabellos dourados
E ama a lua que no lágo
Deixa com encanto mago
Fulgir raios prateados.

Ama tudo é donzella e cautelosa
Evita dos mortaes o amor profano,
O amor de seducção;
Sê como aérea fada vaporósa
Que não ousa tocar um ente humano!...
Virgem, d'est'arte entrega o coração!

Maria Adelaide Fernandes Prata.