Quem póde cultivar pomposas e lindas flores offerece-as com ufania a quem lhes sabe dar merecimento; mas eu que no meu jardinsinho só posso cultivar as mais humildes e menos bellas, offereço-as sem vaidade como as tenho e aqui vae a ultima que desabrochou e que offereço ao ill.mo snr. F. M. de Sousa Viterbo. ― É esta ―
A harpa triste que eu vibro
Deu-ma um anjo do Senhor,
Dizendo-me: ― «olvida o mundo
«N'ella canta o Creador.
«Não te amofinem tristezas,
«Nem a cruz que o céo t'envia;
«Cuidas tu que é sobre a terra
«Que paz s'encontra, alegria?!
«Esqueces que és n'um desterro,
«N'um val de pranto e saudade;
«Não sabes ventura, gloria,
«São alem na eternidade?..
«Como querias achar
«N'este desterro, ventura,
«Quando o Redemptor sorveu
«Cheio, o calix d'amargura!..
«Sem uma queixa soltar,
«Soffreu sem um só lamento!
«Soffre tambem e n'esta harpa
«Canta d'um Deus o tormento!
«E nos dias d'afflicção,
«Com ella mitiga a dor,
«Tira sons melodiosos,
«Canta o Filho do Senhor!
«Canta a Virgem que foi mãe,
«Maria, a estrella formosa,
«Volve o pensamento ao céo,
«Vibra a corda mais mimosa.
A harpa triste que eu vibro
Deu-ma um anjo, d'esta sorte.
E qual o cysne expirante,
Cantarei até à morte.
Maria Adelaide Fernandes Prata.