(No album da minha presada amiga D. Maria das Dores T.G.L.)
Tu sabes qual é o anjo,
Tudo meiguice e ternura;
Que mitiga nosso pranto,
Que adoça nossa amargura?
Quando nos devora o peito,
Amargo cruel sentir;
É então que o meigo anjo
Não apparece a sorrir!
Tu já sabes como é bello
O sorrir d'um serafim?
Muitas vezes o tal anjo,
Se tem rido para mim...
Este archanjo tão formoso
Nos conduz á felicidade!
O seu nome, queres sabel-o?
O seu nome é ― Amisade
.―
Amisade, como é nobre
O teu tão doce sorrir...
Só elle nos faz esquecer
Das dores acerbo pungir!..
Só tu tens puros encantos,
Minha formosa deidade,
Só tu enchugas os prantos
O' doce e nobre amizade.
Quando somos pequeninos,
Inda no berço deitados;
Tu pagas a nossas mães
Os seus maternos cuidados.
Os brinquedos infantis,
Vem comnosco partilhar;
Se choramos, vens de prompto,
Nosso pranto enchugar...
Crescemos. Novas paixões,
Vem nosso peito agitar...
E a ti, nobre amisade,
Chegamos-te a olvidar...
Ficamos então sem ti,
Vivendo só d'illusões;
Com a mente alucinada
Por delirantes paixões!..
Quando da traição o fél
Se entorna no coração...
Vamos de novo em teu seio,
Verter prantos d'afflicção.
E tu, anjo, nos acolhes
Com o teu meigo sorrir!
O nosso pranto enchugas,
Em vez de nos repellir!!
Com tuas fallas tão meigas,
Tão cheias de compaixão;
Arrancas sempre os espinhos
Cravados no coração!..
Veiga ― 20 de junho de 1860.
D. Ephigenia do Carvalhal Souza Telles.