Como a aurora vem formosa,
Com seus dedos côr de rosa
Desbrochar o manto ao dia
De luz banhar as campinas,
Esmaltadas de boninas;
Vem dar a tudo alegria
Já o sol apresurado,
Vem no seu carro doirado
Animar a natureza!
Faz abrir a linda rosa
Que a mira orgulhosa
Da sua rara belleza!....
Hoje o sol é mais brilhante,
O prado mais verdejante;
Tudo tem nova alegria!
Secaram sustidos prantos,
Hoje só se entoam cantos,
P'ra festejar este dia.
Eu fui colher brancas rosas,
E outras flôrinhas mimosas
Que te queria offertar;
Eis que vejo junto a mim,
Um formoso cherobim,
Em lyra d'oiro tocar!
― Quem é o mortal ditoso,
― A quem tu anjo formoso
― Dedicas tão meigo hymno? ―
Respondeu com vós mui bella:
«Não sabes, pobre donzella,
«Que faz seus annos Julino?
«Eu canto hymnos formosos,
«Mais além cantores plumosos,
«Não ouves meigos trinar?
«Ouves as aguas do rio
«No seu brando mormurio
«Ternas canções entoar?
«Vez alli o verde prado,
«De roxas flores enfeitado?
Tudo tem graça e belleza!
«Tudo respira alegria;
«Neste afortunado dia
«Sorri toda a naturesa».
Em quanto o anjo fallava,
Meu coração exultava
De prazer e d'alegria;
Por vêr que os anjos do ceu,
Festejam os annos teus
N'este tão ditoso dia.
Ephigenia do Carvalhal Sousa Telles.