Qual o pio Christão que n'este dia
Ao Golgotha não leva o pensamento!
Para junto da cruz ajoelhar
Onde o martyr soffreu atroz tormento!
Legislador divino! Quem mais houve
Que lei tão justa, egual ao mundo desse?!
Mas eis do mundo a pagal n'essa cruz
Eil-o crucificado! Alli fenece...
E em antes d'expirar ao Padre eleva
Semi-abertos olhos e piedade
Com instancia lhe pede ferveroso
Para a fragil, pequena humanidade!
Vede, quanto elle é grande ante o Senhor!
Aos homens Deus mostrou sua grandeza,
Mostrou-lhes que era a luz; mal que expirou
De trevas cobriu logo a redondeza!
De refulgir o sol então deixou,
Por que outro de mais luz se extinguia,
Toda a terra oscillou; do templo o véu
Na Jerusalém impia se partiu!..
Com medonho estampido dos sepulchros
Resurgiram os mortos appar'cendo
Aqui, alli aos vivos que aterrados
Pedem a Deus piedade já tremendo;
Não mofam já de Christo; elles se curvam
Ante aquelle que á pouco apedrejaram;
Depois as gerações, uma, após outra
Sempre á cruz veneranda ajoelharam.
Porto 14 d'abril de 1865.
Maria Adelaide Fernandes Prata.