Já o sol vae mergulhando
Nas vagas d'além do mar;
Já as nuvens vão cercando
A grande extensão do ar....
É um homem encostado,
Meio morto, quebrantado,
Attentava no estado,
Das fraquezas do seu lar.
Eil-o ahi... esse bravo
Por seu rei combateu só;
E por todos, qual ignavo
E' repellido sem dó...
Eil-o pobre e olvidado
Pelo seu reino amado,
E sendo já elevado...
Roja a fronte pelo pó.
«Eis-me pobre e despresado
Da patria, que sempre amei;
Eu pobre!... Já fui soldado
Expuz-me à morte pelo rei.
Já em tempo minha sorte
Me deu filhos e consorte,
Mas agora ao pé da morte,
Só me lembra a Lusa grei.
Já a meus pés vi prostrado
O soberbo Samorim
Já fui eu o apontado
Do grande rei de Cochim...
Já obrei com minha gente
Grandes feitos no Oriente
E agora... delinquente...
Já tractado sou assim...
Já me vão faltando os meios
D'abrandar a minha dôr
Já morreram os devaneios,
D'aquelles tempos d'amor!..
Eu não tenho já ventura —
A manopla da armadura
E' qual p'ra mim não tem valôr.
E agora... que é feito agora
D'esse tempo que eu passei?!..
D'essas esp'ranças d'outr'ora
Que fizeste, ingrato rei?
Agora o Pacheco ousado,
E' tido por renegado
E' por todos odeiado...
Por todos... eu bem o sei.
Agora que eu sinto a morte
N'este momento fatal,
Já não accuso a sorte
Nem teu fado, Portugal...
Ah! n'este anceio te juro
Agora que um veu escuro
Vae toldar o meu futuro
Que inda te serei leal.
Mas ah! que duro anceio
Eu sinto no coração...
A morte... a morte já veio,
Pôr termo á ingratidão!..
A morte sim... eu a vejo...
Mas bradarei... sem pejo,
Recebendo o duro veijo...
Adeus... infeliz... nação!
Sətembro-1866.
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