Foi em um negócio de ferros velhos, durante a guerra mundial, que o Procópio Viana passou de modesto vendedor da casa Portela & Gomes a honrado capitalista da nossa praça. Com a bolsa repleta de amostras de arroz, de feijão, de milho, de farinha, anda acima e abaixo a vender nos retalhistas, quando um deles o incumbiu de negociar os maquinismos de uma velha fábrica desmantelada. O rapaz ganhou no negócio quinze contos, e não mais saber de outro comércio. E, em breve, comprava até navios velhos, vendendo-os a estrangeiros, conseguindo reunir, com essas transações, os seus quatro milhares de contos.

Rico, pôs-se o Procópio a viajar. E era de regresso desse passeio através dos continentes, que contava, no Fluminense, a um grupo de senhoras, as suas impressões de turista.

— Visitei Paris, Londres, Madri... — dizia ele, com ênfase, sacudindo a perna direita, o charuto ao canto da boca, a mão no bolso da calça. — Fui ao Cairo, a Roma, a Berlim, a Viena...

E após um instante:

— Estive em Tóquio, em Pequim, em Singapura...

A essas palavras, que punham reflexos de admiração e de inveja nos olhos das moças que o ouviam, mlle. Lili Peixoto aparteou, encantada:

— O senhor deve conhecer muito a Geografia... Não é?

— Ah! não, senhora! — interveio, logo, superior, o antigo caixeiro de Portela & Gomes. — A Geografia, eu quase não conheço.

E atirando para o espaço uma baforada do seu charuto cheiroso:

— Eu passei por lá de noite...