O Hildebrando Borges Santos não primava pela delicadeza, quer de maneiras, quer de sentimentos. Educado em um trapiche do porto, para o qual entrara aos dezoito anos com a vassoura, e do qual saíra aos quarenta com a chave do cofre, absorvera, como uma esponja humana, todos os modos e palavrões que flutuavam naquele ambiente de carregadores e marujos. Aos quarenta e dois anos, enfim, rico e livre, resolveu constituir família, escolhendo para complemento a mocidade sadia de Leonorzinha Guedes, filha honesta e linda de um modesto guarda-livros da praça.

Feito o pedido, que foi considerado uma felicidade para os Guedes, começou o Borges Santos a entrar na casa do futuro sogro como se entrasse no seu trapiche. A própria noiva era retirada, às vezes, de casa, independente de despacho, e sem "conhecimento" do pai, e levada pelo noivo, com "frete" pago, para os pontos mais longínquos da cidade. E foi assim que, debaixo de coberta enxuta, chegou a carga do noivado ao porto franco do casamento.

O dia desse acontecimento foi, para os Guedes, o mais feliz dos anais da família. Os parentes encheram a casa, as galinhas encheram os fornos, e as flores encheram, com o seu perfume e com as suas cores, o mobiliário laqueado da noiva. Às quatro da tarde, começaram os preparativos individuais. Às cinco, Leonor estava pronta, no seu lindo vestido branco, e ajustava à cabeça mimosa a grinalda de flores de laranja quando o Borges Santos apareceu, no seu fraque irrepreensível, teso como um figurino de alfaiataria, emoldurado na porta do quarto.

— Que é isso? — indagou, de súbito, encaminhando-se para a rapariga, a testa franzida. — Com licença...

E, tomando da cabeça da moça a grinalda singela, começou a despojá-la, um por um, dos botões de laranjeira.

Impiedoso, como quem cata jasmins num jasmineiro, ia o bárbaro pelando a grinalda, a começar pelos maiores, da frente.

— Ah, Hildebrando! Assim, não — exclamou a rapariga, de repente, em certo momento, os olhos úmidos, juntando as mãos ainda sem luvas. E arrancando a grinalda, com violência, aos dedos grossos do miserável:

— Deixa as de trás; sim?