O sol estava novo, em folha, nesse tempo. Feito há poucos meses, a luz era dourada, e era um encanto vê-la refletida na juba dos leões, no dorso dos aurochs, nos chifres dos alces, ou na cabeleira fulva, e revolta, da primeira mulher.

Madrugada alta, na furna que haviam escolhido para domicílio, Adão erguia-se do leito de ervas secas, libertava-se dos detritos que lhe haviam aderido à pele tostada, e, sacudindo a esposa com o pé, fazia-a erguer-se, estremunhada.

— Veste-te! — ordenava-lhe.

Eva chegava à boca da caverna, estendia o braço para uma videira que aí se enredava, tirava uma folha, prendia-a com dois filamentos de planta, e, amarrando-a em torno dos rins, voltava à presença do seu senhor e marido.

Ao contrário do que se têm dito, não havia ainda, nesse tempo, a vaidade feminina. A mulher não se incomodava com afolha que lhe servia de vestimenta, pouco lhe importando que fosse verde ou amarela. Estendia a mão, e a folha que os seus dedos colhiam, era essa a sua "toilette" do dia.

Certa manhã, porém, andava o suposto primeiro homem à procura de mel, ou em perseguição dos alces nas planícies de Ghobbar, quando chegou à porta da caverna, amparado a um varapau, outro homem, que, pela estatura e pelo trato da pele, parecia vir de longe.

Ao vê-lo, Eva deu um pulo, desconfiada. E mirava-o, atenta, agachando-se, ou erguendo-se, quando o recém-chegado a envolveu com seus braços longos, apertando-a, entre grunidos, de encontro ao coração.

À noite, ao voltar à caverna, com o peito rasgado pelos espinhos e a barba, revolta, cheia de folhas emaranhadas, Adão vinha tão cansado que não viu, sequer, que as ervas do seu leito estavam mais machucadas do que de costume. Ao olhar, porém, a esposa, indagou:

— Onde está o vestido que puseste de manhã?

— Ah!... — fez Eva, com espanto.

E a cabeça baixa, como quem, procurando uma desculpa, mente pela primeira vez:

— Deu a lagarta...