Personagens: VITORINO, ERNESTO, GONZAGA, MAGALHÃES e CARNEIRO (Que comem sentados ao redor de uma mesa.)

VITORINO - Vivam os Tenentes do Diabo!

TODOS - Hip! Hip! Urrah!

ERNESTO - Tu gritas mais do que comes, meu caro amigo.

Toma o exemplo do Magalhães, que come sem gritar.

GONZAGA (Batendo no ombro de Magalhães.) - Éum excelente garfo!

CARNEIRO (Levantando-se.) - Meus senhores, quem devora por este modo merece a consideração e respeito de seus consócios. Eu proponho que o Magalhães seja promovido a capitão do Diabo.

TODOS - Apoiado!

CARNEIRO - Não deve marcar passo em tenente quem ocupa sempre um lugar de honra em nossos passeios, atacando com valor inexcedível as sopeiras e as terrinas e realizando as mais bem combinadas operações de queixo.

ERNESTO - É um Moltke!

CARNEIRO - Vejam: ele acaba de plantar o estandarte da vitória sobre o esqueleto deste peru.

MAGALHÃES - Por falar em peru, passa-me aquele frango de cabidela.

VITORINO - Já não há mais.

MAGALHÃES (Batendo no prato.) - Garçom! Garçom! (Aparece o criado.)

ERNESTO - Frango de cabidela a um. (O criado vai a sair.)

CARNEIRO (Chamando o criado.) - Venha cá, traga para quatro.

MAGALHÃES - Dizes muito bem: eu só, valho por quatro de vocês. (O criado sai, volta depois com o prato pedido.)

CARNEIRO - Não contesto.

MAGALHÃES - E provo-o já.

VITORINO - Vejamos.

MAGALHÃES - Qual é o fim do nosso passeio hoje ao Jardim Botânico?

ERNESTO - Divertirmo-nos.

GONZAGA - Um pretexto para te ver comer.

MAGALHÃES - Não sejam modestos; estamos em família e podemos dizer que nós, os Tenentes do Diabo, só de diabos temos o nome quando, dominados pelos mais belos sentimentos, saímos pelas ruas a implorar do generoso povo fluminense o óbolo da caridade em favor dos desgraçados e oprimidos.

GONZAGA - Bonito, seu Magalhães.

MAGALHÃES - Não vimos aqui hoje esmolar para as vítimas da epidemia de Buenos Aires? Pois bem, abram as sacolas e eu aposto aquele frango de cabidela em como nenhum de vocês será capaz de realizar até ao fim do dia o que eu tenho conseguido até agora.

ERNESTO (Tirando dinheiro do saco.) - Eu já arranjei dez cartões de bondes.

VITORINO - Eu tenho mil e oitocentos.

MAGALHÃES - Eu lhes apresento dez de cinco e quatro cartões da Ferry.

CARNEIRO - Decididamente eu expiraria de bom grado nos braços da epidemia para deixar a viúva amparada por um protetor da tua ordem.

GONZAGA - À saúde do Magalhães.

VITORINO - Falemos em tese. Pela segunda vez - à saúde dos Tenentes do Diabo, e há de ser cantada.

TODOS (Menos Magalhães que come durante o canto que se segue.) - Apoiado!

CARNEIRO - Canto eu. (Canta.)


Em prazeres e folias
Corre a vida venturosa;
Este mundo desgraçado
E daquele que mais goza!

Eia, pois, rapaziada,
Toca a rir, toca a folgar,
Não devemos nesta vida
Duras penas suportar.

CORO (Com acompanhamento de copos.)


Em prazeres e folia
Corre a vida venturosa,
Este mundo desgraçado
E daquele que mais goza.

CARNEIRO -


Somos praças do diabo,
Mas a Deus idolatramos,
Pois as lágrimas da viúva
Com prazer nós enxugamos.

Eia, pois, rapaziada,
Das garrafas demos cabo;
Viva a tropa caridosa
Dos Tenentes do Diabo.

CORO -


Eia, pois, rapaziada,
Das garrafas demos cabo,
Viva a tropa caridosa,
Dos Tenentes do Diabo.

Todos - Bravo! Bravo!