Além do cupim vi uma aranha.
Feio bicho; era porém ele que principalmente dominava o teto do meu sótão.
No centro da imensa teia que se estendia em admirável rede de mil fios entrelaçados por baixo de todo o telhado, o diabo da aranha se ostentava soberana.
A um movimento do ar que sacudia tênue fio da teia, a aranha avançava logo para, se era preciso, remendar ou dar nó à rede; ao toque de um inseto os fios tocados enlaçavam a mísera presa que a aranha ia logo devorar sem piedade.
O sistema da centralização política e administrativa estava ali perfeitamente realizado pela aranha.
Era exatamente como a administração, a polícia e a guarda nacional do Brasil.
Mas a aranha ia em perversidade muito além desse domínio escravizador do telhado.
Feia, assassina, terrível, a aranha excede em crueza a todos os animais irracionais, e, oh assombro! até aos racionais, até aos homens!
Como todos os insetos carnívoros caça, mata e devora outros insetos.
Pior que os outros insetos assassinos, guerreia, e mata os da sua própria espécie a semelhança dos homens.
E ainda pior que os homens, a aranha, o tipo da malvadeza levada ao zênite, a celeradez nec plus ultra, à mais horrível exceção em tudo, a aranha mistura o amor com o ódio e o gozo com o assassinato, a aranha cede ao instinto, obedece à lei da reprodução da espécie, e satisfeito o império natural da lei, a aranha, como a antiga e fabulosa amazona, ataca, fere, e mata aquele mesmo que pouco antes lhe dera a glória próxima de encher de ovos prolíficos a sua tela.
Onde se viu perversidade semelhante!!!