A Maravilhosa Vida de Santos=Dumont/Capítulo 5
Enquanto relatava seu encontro com H.G. Wells Santos=Dumont não percebeu que as horas corriam, e que ao cair da noite a temperatura se despencava nos Alpes suíços. A bela Yolanda estava tão entretida com seu interlocutor que mal percebia seu bater de dentes e o frio que penetrava em suas vestes ainda um pouco úmidas após os tombos que levou enquanto tentava dominar o Conversor Marciano.
Santos=Dumont reconhecia muito bem a fragilidade disfarçada em enorme força de caráter de Yolanda, ele a conheceu quando tinha ela ainda tinha 18 anos. Foram apresentados na casa de Dona Amália Dumont, esposa de Henrique, o irmão mais velho de Santos=Dumont.
Amália era grande amiga de Dona Guiomar, mãe de Yolanda e freqüentemente mãe e filha se hospedavam na casa dos Dumont na praia do Flamengo.
Desde o dia que conheceu Yolanda, Santos=Dumont fazia-lhe a corte explicitamente. Ambos passaram a infância em fazendas de café, eram refinados e tinham os mesmos interesses. A afinidade era muito maior do que a diferença de 30 anos que parecia ainda maior pela decreptação precoce sofrida por Dumont devido ao problema de nervos que tanto o afligia.
E agora, ali sentado de frente para ela, o mundo parecia estar parado. As recordações do tempo em que admiravam juntos a lua, que parecia ainda mais bela quando vista da praia do Flamengo, quando iam juntos a Confeitaria Colombo, entre tantas outras, tumultuavam a cabeça de Dumont. O senso de responsabilidade falou mais alto do que a vontade de estender aquele momento especial e Santos=Dumont toma a iniciativa de levá-la dali.
“Penso que estendemos muito nossa conversa, não gostaria de esquentar-se tomando um chocolate quente? Ouvi dizer que no Kulm Hotel preparam o melhor chocolate suíço”. Com um sorriso no rosto Santos levanta a jovem Yolanda pelo braço, vestem suas roupas mais quentes e ambos dirigem-se ao hotel acompanhados de um carregador contratado pelo marido de Yolanda.
Quando este chegou mais perto, Santos=Dumont não pode evitar o olhar de descontentamento percebido tanto pelo pobre carregador como também por Yolanda, que esboçou um sorriso.
Ao se aproximarem do hotel, um som muito característico no final dos anos 20 começava a se definir, era Jazz.
Satnos=Dumont não suportava lugares cheios e Jazz e ainda um pouco perturbado pela presença do carregador, tem sua gota d’água e explode:
“Hora essa agora! Quando tudo parecia estar perfeito uma dupla se transforma em trio, e a agitação do Jazz resolve roubar meu resto de paz. Os maridos eu ainda posso suportar, mas o barulho do jazz é intolerável.”
Mesmo por traz de seu senso de humor, Yolanda sabia que aquilo poderia ser prejudicial ao estado de saúde do aviador. “Eu tenho um plano” falou Yolanda em voz baixa com uma expressão que já era familiar a Dumont. Ele sabia que ela iria aprontar algo.
Ao entrarem no hotel Yolanda dirige-se ao carregador dando-lhe ordens com autoridade e confiança que tanto a caracterizaram como a grande dama das artes.
“Por favor, leve o equipamento de esqui até o concierge e peça-o que guarde com muito carinho, se algo acontecer ao Marciano não sei do que o Sr. Alberto poderia fazer contigo”.
Tão logo o carregador se afasta o casal foge pelas ruas cobertas de neve até um pequeno café ali próximo.
Chegam esbaforidos ao café intercalando risadas a suspiros de cansaço após terem corrido naquele começo de noite gelada.
“Acabo de perceber que de todos os meus inventos o Conversor Marciano é de longe o que mais gosto. Somente hoje por duas vezes serviu-me muito mais do que um simples instrumento para subir montanhas nevadas.”
Ambos riram mais um pouco enquanto se acomodavam em uma confortável mesa ao lado da lareira.
“Como pode ser tão cínico Santó, sei muito bem do uso que fez da Balladeuse para conquistar Ainda de Acosta.” Disse Yolanda retomando a conversa interrompida nos Alpes.
“Ah Aida” expressou Dumont com um cínico olhar para o infinito.
“Como pode ter uma reação tão apaixonada na minha frente? Não percebe que isso pode ferir meus sentimentos?” esbraveja Yollanda esbofeteando o braço de Santós ainda com sorriso no rosto. “tudo bem, estou curiosa conte-me tudo sobre ela.”
“Aida de Acosta era uma jovem americana filha de Ricardo de Acosta empresário de origem cubana que atuava no ramo da construção de navios a vapor e de Micaela Hernandez de Alba y de Alba da aristocrática família espanhola de Toledo da Casa de Alba. Foi a Paris com um grupo de amigos para aproveitar as férias da Universidade. A conheci em meu angar em Neuilly- Saint James, estava eu e meu fiel mecânico Chapin fazendo reparos no motor do meu numero nove quando percebo a presença de uma bela figura que nos observava na lida com o engenho. Dirigi-me a ela em francês solicitando que se sentasse, pois iria demorar um pouco até que saísse em vôo. E então com um belo sorriso respondeu em francês com sotaque mui característico de americanos “Não falo francês Monsieur Dumont”. Então um coral de americanos que a rodeava caiu em gargalhadas.”
“Que imatura” protesta Yolanda “fora ao seu hangar com um grupo de amigos a zombar de ti?”
“Não, não” explica Dumont “eram seus amigos que já a algumas vezes estiveram presentes em outras demonstrações com o numero nove. Mas de fato, Ainda tinha todo o direito de ser imatura, pois era uma jovem estudante de 19 anos. Fato é que, ela se tornou a musa do hangar, toda vez que chegava os funcionários do hangar, bem como aqueles que lá se reuniam a fim de ver meus vôos a anunciavam: “La belle de Neuilly est arrivée” . Levantei-me e formalmente me apresentei a donzela, desta vez em inglês. La mesmo manifestou seu ardente desejo de voar sozinha na minha Balladeuse e dirigir livremente.”
No mesmo instante Yolanda interrompe, desta vez já sem o sorriso no rosto “Não entendo porque ela, já havia prometido este vôo solo a outras personalidades, Alice Roosevelt, filha do presidente americano e também à então popular diva da opera Jeanne Garnier. Porque dar tal privilegio a sua “Belle de Neuilly”?”
Santos não consegue evitar o sorriso que esboça levemente
“Não sabia que isto a incomodava”.
“Não é exatamente algo que me incomoda, no entanto sei que tal privilegio envolve circunstancias particulares.”
Desta vez Santos ri com vontade “sabes muito bem que se as circunstancias permitissem você seria a pessoa escolhida.”
“De fato” argumenta Yolanda ”na época tinha apenas alguns meses de idade.”
“Onde parei?” pergunta Santos com certa ironia.
“Ficou de responder-me porque levou Aida enquanto se referira sobre seus “ardentes” desejos.”
Desta vez ambos recobram o clima descontraído que havia se perdido com o pequeno mal-estar causado pelo ciúme de Yolanda.
“O que de fato me levou a optar por ela foi a efeito seu desprendimento e seu impetuoso desejo por aventura. Era fácil identificar em Aida que tinha o espírito de aventura conciliada a seriedade necessária para levar a cabo tal empreitada. Marquei com ela suas primeiras instruções de vôo no dia seguinte, não tínhamos tempo a perder, brevemente Aida deveria voltar a América para retomar seus estudos. Comprovando minha teoria sobre sua responsabilidade Aida antecipou sua chagada a Neuilly em meia hora para suas primeiras lições. Após as instruções teóricas, que nos tomou parte da manhã resolvi sair com ela para instruções praticas.”
“Se bem me lembro, o cesto de vime da Balladeuse não tem espaço suficiente para duas pessoas.” Observa perspicazmente Yolanda.
“De fato era bem apertado, por diversas vezes voei pelo lado de fora, no entanto, algumas vezes tinha que adentrar ao cesto para ter a agilidade necessária de manuseio da aeronave. Alguns cuidados básicos foram tomados para a instrução em vôo, antes mesmo de decolarmos decidimos mutuamente que seria muito melhor se tirássemos nossos chapéus e também pedi a ela que retirasse os brincos e broches que poderiam nos atrapalhar em tão limitado espaço.
Mandei tirar o numero nove da garagem, pesar e equilibrar cuidadosamente, também dei instruções claras para que colocassem uma quantidade adicional de hidrogênio compensando espaço na câmara de ar central e ou aumentando a pressão no invólucro, a pequena aeronave estava projetada para meus 50 quilos e teria que agüentar os 65 quilos adicionais de Mademoiselle Acosta. Saímos de Neuilly por volta do meio-dia. Ao contrario daquele típico mês de junho, o vento não estava soprando em rajadas. Voamos até o La Cascade próximo a Longchamps e também ao hangar onde almoçamos e de la voltamos à garagem.”
“E como se comportou Madmoiselle Acosta em sua primeira lição?” pergunta Yolanda.
“Aida era uma “fast learner” como costumava dizer de si mesma e ainda tinha tempo de apreciar o belo panorama parisiense”
O simples fato de consentir com a condição de que a pretendente tomasse primeiramente algumas lições para a manobra do motor e da maquinaria, demonstra de maneira eloqüente, suponho, a minha confiança no numero nove.
Dei-lhe mais duas lições, e então no dia 28 de julho me chega a garagem Aída acompanhada de seus amigos americanos. Sorridente como sempre e me convida para um Jogo de Pólo que seria a disputa entre o time americano contra o time inglês. Devo confessar que até aquele ponto tinha prazer em fazer vôos acompanhado da mais bela donzela que já havia aparecido na garagem de Neuilly, no entanto não tinha intenção de deixar que voasse sozinha na minha preciosa aeronave, talvez ela tenha percebido meu plano e para se assegurar que cumpriria minha promessa de deixá-la fazer o vôo solo usou de uma tática que somente uma mulher muito atraente, consciente do seu poder de conquistar qualquer homem, poderia ter usado.
Apresentou um jovem americano que se encontrava no grupo de amigos dela dizendo que ele era a principal promessa no time americano, o jogo seria realizado a menos de 800 metros de minha garagem, em Bagatelle. Dizia isso abraçando o rapaz enquanto olhava sedutoramente para mim. Naquele momento entrei em completo desequilíbrio, meu corpo tremia e a perspectiva de que alguém pudesse tirar o prazer dos nossos encontros no hangar e de nossas aulas de vôo sobre os céus de Paris me fizeram sentir a pior das emoções.”
“Tomava-se de ciúmes daquele jovem jogador de pólo senhor Alberto?” perguntou Yolanda com um tom de perturbador deboche.
“De fato, aquela atitude fez com que revisasse todos os meus planos para com a garota. Na manhã do dia 29 de julho de 1903 Aída chegou bem cedo ao hangar trajando um echarpe branco e preto, usando chapéu e todos os acessórios que achamos inconveniente durante as aulas, sem duvida estava vestida para impressionar quem quer que a visse.
O que aconteceu a seguir viria a se tornar as série de acontecimentos que se tronou memorável na história da aerostação navegável, minha jovem aeronauta, elevando-se dos terrenos da minha estação, no menor dos dirigíveis possíveis, gritou Lache tous”. De Neuilly-Saint-James, ela fez o guide rope para Bagatelle, convenientemente próximo ao incomodo jogo de Pólo. Iludido que estava de que a experiência de vôo causaria a bela muito mais emoção do que assistir ao belo rapaz jogando Pólo demos seqüência ao nosso plano. Sentia que estava colocando tudo o que já havia conquistado até aquele ponto em grande risco, poderia ser responsável pela morte ou dolo da moça, bem como, pela perda de meu melhor dirigível somente para ganhar numa disputa de quem a impressionaria mais, eu com minha maquina voadora ou o jogador de Pólo que mal posso lembrar do nome montado em seu belo cavalo.”
“É difícil crer Alberto, que até você tão cordial e cavalheiro não difere muito de outro homem no que diz respeito ao trato com as mulheres. Quanto mais conheço os homens, mais me asseguro que todos são iguais em comportamento” observa Yolanda.
Ambos riram e então Santos=Dumont retoma o relato. Ö numero nove se elevava do solo, o cabo, arrastando pelo chão uma dezena de metros, deu-lhe altitude e equilíbrio que não variaram. Não pretendo dizer que não havia ninguém acompanhando o curso do guide rope, mas é certo que ninguém tocou nele até o momento em que, seu percurso terminando em Bagatelle, a intrépda jovem “navegadora” retornou seus pés ao solo.”
“Como fez para acompanhar a “sua jovem” em seu percurso?”pergunta Yolanda de forma maliciosa.
“Segui-a de bicicleta. Minha principal recompensa aconteceu quando chegou ao campo de Bagatelle. O jogo logo foi interrompido quando o barulho do motor do meu numero nove denunciava o pouso da aeronave próximo ao local em que jogavam. Todos olhavam boque abertos a aeronave e então cheguei de bicicleta.
Um dos jogadores olhou perplexo para mim e perguntou – Se estas aqui quem dirige o Balladeuse? – Sem precisar que desse a resposta, a aeronave se aproxima revelando a bela figura da mais bela dama se aproximando. Conduzia o numero nove com uma confiança e destreza de causar inveja a mim mesmo Por um instante tive medo que o barulho do motor a explosão assustasse os cavalos e algum acidente pudesse ocorrer. Foi um pouco embaraçoso que ao aterrissar próximo ao jogo de Pólo, Aída, desta vez, teve grande dificuldade para sair do cesto de vime. Seis homens, ente eles o belo americano, a ajudaram a sair virando a barquinha de lado enquanto eu a retirava do cesto. Deu me um forte abraço e beijou minha bochecha encostando seus lábios nos meus, de forma atrapalhada por estar tomada pelas grandes emoções causadas pelo vôo. Ambos nos enrubescemos, até que ela quebra o gelo e faz algumas perguntas práticas no que diz respeito a manobrabilidade da Balladeuse.
Respondi suas perguntas e então, confiantemente ela retorna a cestinha, e sem mesmo pedir minha permissão, com a ajuda de meus mecânicos retoma vôo, desta vez de volta a garagem, em vôo que durou cerca de meia hora.”
“Apos tal experiência, duvido muito que Aída não ficasse apaixonada por você, como pode ter tanta confiança?”
Yolanda parece um pouco desolada por perceber que Santós talvez confiasse e prestigiasse mais Aida do que ela mesma.
“De fato, a partir daquele momento ficamos muito envolvidos um com o outro, no entanto tivemos uma serie de problemas com sua família. Apos o vôo, era inevitável que a imprensa da época ficasse calada, jornais do mundo todo relataram o feito por mais que tentasse deixar nosso romance longe dos holofotes e da imprensa. Como conseqüência, em pouco tempo seu pai chegou a Paris para resgatar a filha.” “Como aconteceu isso?”pergunta Yolanda. “No primeiro dia do mês de agosto, o mês de numero oito, numero este que já me mostrou não trazer muita sorte fui a Maison Cartier, pois havia pedido ao meu grande amigo Louis Cartier para confeccionar uma jóia de alto valor, cravejada de rubis com os dizeres “à Belle de Neuilly” que pretendia dar de presente a minha amada. Ao regressar a meu apartamento fui avisado pelo zelador, que parecia estar muito agitado, que a bela Aída havia deixado adentrar seu pai que viera da America e parecia estar muito nervoso.
Antes mesmo de chegar em meu apartamento ouvia os gritos do corredor. Abri a porta e energicamente perguntei o que estava acontecendo.
O Sr. Ricardo, pai de Aida, consciente da indelicadeza que cometera ao entrar em meu apartamento, mais ainda bastante perturbado com o nosso relacionamento, passou a se comportar de forma mais reticente, abaixou o tom de voz e sem ao menos se apresentar disse:
-Como teve coragem Sr. Dumont de expor minha filha a tamanho risco? Coragem de expor minha filha aos maldosos comentários da imprensa? Saiba que ela mal saiu da puberdade. Não aprovo sua estadia em seu apartamento. Não aprovo seu relacionamento. Digo ainda Senhor Dumont, que só existem duas razoes para que uma mulher honrada apareça nas paginas dos jornais; ou para anuncio de seu casamento ou para seu obituário.
-Tomou fortemente Aida pelo braço e saiu com ela muda, sem ao menos dirigir um olhar para mim.
Não tive coragem de tirar a bela jóia do bolso quando foram embora, pendurei o meu paletó, dirigi me ao meu estúdio e passei algumas horas em pranto admirando uma pequena maquete do meu número nove. Me remoia enquanto imaginava nossos vôos no apertado cesto de vime sobre os céus de Paris.”
“É muito triste que tenha acabado desta forma” comenta Yolanda enquanto segura as mãos de Santós por debaixo da mesa “sinto muito por você.”
“Não sinta” retrucou Santós “nos voltamos a nos ver em outra ocasião e nossa paixão nunca havia sido tão ardente. No seu ultimo dia antes de voltar para a America, sabíamos que nunca mais iríamos nos ver novamente. Ela chegou em meu apartamento pela manhã passamos o dia inteiro juntos, e momentos antes de ela sair de forma sorrateira me deixou um presente, uma bela foto autografada que não tardei a emoldurar e expor sobre minha escrivaninha. Quando estávamos na porta em momentos finais de nossa despedida, veio em minha memória como um raio a lembrança da bela jóia que encomendei: - Espere um pouco, já ia me esquecendo, tenho algo para você. Antes mesmo que ela tivesse tempo de começar a falar sobre o avançado horário corri, retirei o pacote do bolso do paletó que estava pendurado e entreguei a ela.
Ela abriu, nos abraçamos no abraço que somente os amantes em despedida eterna sabem entender e entre lagrimas fizemos nossas ultimas juras de amor. Aquela foi a ultima vez que a vi, lembro-me em detalhes de seu rosto, de seu cheiro, do toque em sua pele. Nem mesmo a foto que repousa sobre minha escrivaninha é mais viva do que as recordações que tenho de Aida.”
Ainda de mãos dadas com Yolanda ambos derramam lagrimas enquanto olham um para o outro. O consolo encontrado no olhar de Yolanda fazia com que Santos=Dumont visse pela primeira vez a beleza num assunto que outrora, gerou tanta desilusão e sofrimento ao Pai da Aviação.
Foi então que adentrou naquele pequeno café em St Morritz o carregador contratado pelo marido de Yolanda, procurando pelo casal, com um ar de preocupação que causava pena. Yolanda levantou-se e ironicamente perguntou ao pobre homem.
“Por onde andou? Saiba que se não tivéssemos achado este Café teríamos congelado até a morte.”
“Sinto muito madame” disse o funcionário bastante consciente de que havia sido enganado por Yolanda, porem bastante consciente também de que se Jaime Telles soubesse que havia perdido Yolanda de vista não receberia o pagamento por aquele serviço.
Lá mesmo, com o agora mais atento carregador, Santós, ainda com lagrimas nos olhos se despede de Yolanda. “Não estou muito longe de meu hotel, devo deixá-la que vá” beija gentilmente as mão de Yolanda, acena com a cabeça ao jovem carregador, que ainda perplexo responde com outro aceno e se retira.
“Espere!”grita Yolanda enquanto corre em direção a Santós “quando nos veremos de novo?”pergunta aflitamente.
“Devo fazer uma viagem de negócios a Biarritz e a Paris no próximo dia 3 de abril, sei que estará com Jaime na Europa nesta temporada, seria um grande prazer se me encontrassem.”
“Sim Sr. Alberto” responde Yolanda simulando uma amizade mais sóbria ao nem tão inocente carregador “certamente nos encontraremos em Paris.”
Bastante perturbado pelas lembranças que teve, Santós entra numa carruagem de passeios turísticos que já havia localizado no momento que saiu do café e da instruções do hotel que estava ao cocheiro. No percurso sua tormenta de emoções faz com que seu estado de saúde, que já era bastante debilitado se comprometesse ainda mais. Supersticioso do jeito que era, Santos associa o numero oito da data que tornaria a encontrar Yolanda em Paris, dia 03 de abril de 1928, à maldição daquele numero, sabia que poderia comprometer novamente um relacionamento tão belo que já havia tido com Yolanda em função com o numero que o perseguia.
Santós respira fundo por algumas vezes, se recupera o suficiente para chegar ao seu quarto, ingere de forma decidida algumas pílulas e calmantes, e cai no sono.
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