A TRAMA


NA noite desse dia estava Narizinho no melhor do somno quando acordou com uma batida na janella.

— Toc!... toc!...

— Quem é? disse ella, pulando da cama, tremula de medo.

— Boa noite, bella princeza, respondeu uma voz conhecida. Tenho um segredo a te revelar.

Era o sapo. Narizinho respirou alliviada e, abrindo a janella, perguntou-lhe o que desejava.

— Tu me salvaste a vida, respondeu o sapo, e eu quero salvar a tua. Escuta lá. Depois que me tiraram as pedrinhas da barriga, eu sahi do jardim e fui encorujar-me num canto escuro para sarar da cortadura com todo o meu socego, procurando para esse fim uma tóca de pedra. Achei uma tóca a meu geito, e lá estava a cochilar quando á meia noite ouvi rumor de vozes ao lado. Como sou muito curioso, encostei o ouvido a uma fresta e puz-me a escutar. Essa fresta ia ter ao carcere do Escorpião Negro. A principio me pareceu que o monstro cego falava comsigo mesmo. Mas não era assim. O monstro conversava com o capitão da guarda, cuja voz conheço muito bem. Estavam conspirando contra o principe, e muito tempo levaram combinando os planos duma revolta afim de matar o principe e enforcar todos os nobres do reino. Combinaram tambem que subiria ao throno o Escorpião cego, sendo Narizinho obrigada a casar com elle.

A menina, mal ouviu aquillo, teve um chilique, e mestre Agarra viu-se em apuros para despertal-a com borrifos d'agua fria. Quando Narizinho voltou a si o sapo disse:

— Vamos, menina! Nada de fraquezas. É preciso avisar o principe emquanto é tempo.

Narizinho, com lagrimas nos olhos, agradeceu o aviso do sapo e sahiu correndo em direcção aos aposentos do principe. Lá bateu na porta, furiosamente. O principe,

assustado, pulou da cama de espada na mão e vendo em sua frente Narizinho em camisola, mais espantado ficou ainda.

— Depressa, principe! Estão conspirado contra a nossa vida!... disse ella. E desfiou toda a historia contada pelo sapo. O principe ouviu tudo em silencio de cara amarrada. E, depois de meditar uns momentos, disse com grande calma:

— Estou acostumado á lucta e sei defender-me. Volta para o teu quarto e dorme socegada que esta noite mesmo castigarei os criminosos.