Quando o coronel Praxedes Gama teve notícia de que a filha havia abandonado o marido para ir viver com um capitalista, ficou furioso. Era o primeiro punhado de lama que tombava sobre a família.
— Vou ao Rio, e mato-a! — exclamava o honrado fazendeiro, a andar de um lado para outro do alpendre da fazenda, cofiando a barba venerável.
Coração de mãe, dona Miquelina tranqüilizava-o. Quem sabia se aquilo não seria a felicidade da menina? Tapassem, os dois, os ouvidos, e dessem tempo ao tempo. E o tempo foi, realmente, generoso, porque, ao visitar a filha, meses depois, e ao ser apresentado ao novo genro, o coronel ficou tão satisfeito com o luxo, a beleza, o bem-estar da sua Luizinha, que não lhe tocou, sequer, naquela mudança de estado.
Meses passados, voltou, e encontrou, já, outro genro.
— Meu marido, — apresentou a moça. E para o novo esposo, indicando o ancião:
— Meu pai.
Essa nova modificação na vida da filha feriu fundo o coração do velho, o qual, ao tê-la só, inquiriu, severo:
— Que é isso, então? Que vida é esta que levas? Tu não eras, acaso, uma mulher forte?
— Sou, papai; sou forte! — confirmou a moça.
E abraçando o velho, garota:
— Papai já viu "forte" que não mude de guarnição?