Passeando de um lado para o outro naquele "bandoir" forrado de azul, em que um tapete felpudo punha, ao lado do divã, uma grande mancha dourada, o poeta Alfeu de Miranda contava à amante, a linda Avelina Figueira, antiga Mme. Prado Mota, pequenos segredos da intimidade doméstica. Apenas de "combinação", deixando ver o colo farto os maravilhosos braços roliços, a rapariga encostou-se, preguiçosa, no divã semeado de almofadas de seda, acompanhando com os fúlgidos olhos de felino os movimentos vagarosos do rapaz.
Mãos para trás, jaquetão abotoado, olhos no chão, Alfeu de Miranda media os passos, e narrava:
— Minha mulher é assim: não tem ciúmes, não se zanga, não se irrita comigo. Saio quando quero e volto quando entendo. A minha vida mundana é-lhe indiferente.
— E ela te é fiel, sincera, dedicada? — indaga a rapariga.
— Fidelíssima. E apesar de sua indiferença pela minha vida amorosa, tem-me grande amizade. É uma esposa modelar. Um verdadeiro anjo.
— E se ela soubesse que tu tens amantes?
— Não se importaria, estou certo. É uma santa; já te disse.
Avelina ensaiou um sorriso malicioso, e insistiu:
— Tua mulher é de pau?
— De que? — perguntou o rapaz, estacando, de repente, no meio da casa.
— De pau — tornou a rapariga.
— Por que?
— Por que? — repetiu Avelina.
E sem esperar a confirmação:
— Eu te pergunto, filho, porque... não é de pau que se fazem as "cômodas"?