Residindo nas proximidades da Vila Militar, a Etelvina Ribeiro sonhara, desde menina, com uma marido que usasse farda. Aos quatorze anos teve como namorado um sargento do 1° batalhão de engenharia, que a esqueceu quando foi transferido. Aos quinze, namorara um segundo tenente de artilharia. Aos quinze e meio, um primeiro tenente da cavalaria e, pouco, depois, um capitão da companhia de metralhadoras. Aos dezesseis, fora rebaixada, e passara, de novo, a gostar dos tenentes, representados por um grupo de obuses, e por outro, da artilharia montada. Aos dezessete anos de idade era Etelvina um verdadeiro campo de manobras, em matéria de namorado. Até um sargento aviador havia feito um "raid" sobre o seu coração experiente. E era esta a sua condição quando se apresentou, disputando-a, o tenente Filomeno Coutinho de Medeiros. Militar honesto e futuroso, que a procurava com a mais sincera idéia de casamento.
Coração apaixonado, o tenente buscava, há muito tempo, uma oportunidade para aproximar-se da menina. Acompanhava-a, seguia-a, cercava-a, mas o destino não permitia, jamais, uma troca de palavras. E foi quando, por um acaso, se viu, um dia, ao lado dela, no trem que vinha para a cidade.
— Oh, que felicidade! — exclamou, a voz trêmula. — A senhora por aqui?
Sorriso no canto da boca, a mocinha olhou-o, com garotice.
— Ah! É o senhor? — disse , como se já o conhecesse há muitos anos.
Aproveitando aquela entrada, o rapaz tomou a ofensiva, abrindo-lhe de par em par o coração. Contou-lhe a sua paixão, os seus propósitos de noivado, e a ventura que esperava da vida se ela, boa, pura, honesta como era, lhe concedesse a esperança do seu amor. Terminada aquela confissão tão sincera, tão leal, tão profunda, a menina olhou-o, de cima a baixo.
— De que arma é o senhor? — perguntou.
— Da cavalaria, — informou o tenente.
— Ah, não quero! — respondeu a pequena, peremptória.
— Usam chilenas! — acrescentou.
E como a responder ao olhar interrogativo do rapaz:
— Rasgam muito a camisa da gente!