A Pátria (Niterói)/1838/07-03+06/Vem! penetra no templo das artes!


Etoile, etode, léve-toi!
V. Hugo



Vem! penetra no tempo [1] das artes!
Vem! que as portas te vamos abrir!
Vem! que a gloria te hastêa estandartes,
E te enlaça os laureis do porvir!

Este povo, estas magicas palmas
Uma esp’rança de certo te dão!
E’ assim que creáram-se os Talmas,
E os Rubins assim se farão!

E’ assim! — Que este applauso eloquente
Diz bem alto ao talento: — surgi!
E bem haja quem ama, quem sente
Este fogo que apura-se aqui!

Esta chamma sagrada, accendida
Dentro d’alma por mão do Senhor:
Esta chamma que abrasa e dá vida
E que vale uma crença, um amor!

Uma crença singella, e dourada,
Um amor que a palavra não diz,
E que alenta esta idéa sagrada
Que um futuro prepara ao paiz!

Oh! bem hajam as frontes ardentes,
Que das artes banhára o Jordão.
E cultivam os louros virentes
Como eterno, sagrado brasão!

Sacros louros que o Verdi creára,
E que outr’ora sonhou Malibran,
Quando as turbas risonha encantára
Como o nome da crença pagã!

Mas o espinho da rosa não dista;
Ha na vida desertos sem luz
Ergue a fronte, prepara-te, artista!
Toma ledo nos hombros a cruz!

Vem! penetra no templo das artes!
Vem! que as portas te vamos abrir!
Vem! que a gloria te hastêa estandartes,
E te enlaça os laureis do porvir!

  1. Por um erro de linotipia a palavra templo foi grafada erroneamente como tempo no jornal. Além do termo templo se adequar melhor ao verso, a última estrofe repete a primeira e nela o termo foi impresso corretamente.[Nota da comunidade de editores do Wikisource]