As festas mais solenes que se realizam no interior do Brasil são os casamentos. Uma semana antes do ato religioso ou do ato civil, já a família da noiva trabalha, esbaforida, nos preparativos da mesa. Porcos rechonchudos guincham no quintal, ao contato da lâmina assassina, que lhes entra pela papada. Depois, são as galinhas estrebuchando, os perus embriagados, a as cabras, e os pombos, e as vitelas, sacrificados barbaramente à felicidade do novo lar.

Na sala de jantar, grande como a dos conventos, as amigas e parentas da noiva cortam papel de seda, de cores variadas, para os frascos de doce. Inquieta, desmanchando em ordens, multiplicando-se em cuidados, a dona da casa conta os pratos, os garfos, as facas, as xícaras, as colheres, fazendo recomendações às comadres, encarregadas da cozinha e da copa. E quando alvorece o dia do desastre, isto é, do casamento, é a azafama, a balbúrdia, a confusão, até que, por volta das onze horas, a ronqueira do adro da matriz troveja, ao longo, anunciando a aproximação dos noivos, unidos para sempre.

Criado na cidade, entre o fonfonar dos automóveis e o ruído tumultuoso dos bondes, o Zézinho estranhava aquele excesso de festas no casamento da sua prima Joaninha, que ele fora assistir em São Cosme de Cima, em companhia do pai. Tudo aquilo lhe parecia pitoresco, e, ao mesmo tempo, excessivo.

— Mas, papai, tudo isso é para o casamento da prima? — indagava, espantado, com a curiosidade dos seus oito anos.

— É, meu filho. Aqui, no interior, é assim.

— Mas, dois bois, oito carneiros, três cabras, nove patos, vinte e sete galinhas, e essa porção de doces e bolos, que enche a metade da casa?

— É assim mesmo. A fartura, aqui, é um costume.

— E aquele arco enfeitado, erguido perto da porteira, que é que significa?

— É uma tradição do lugar, parece. Aquilo quer dizer que a vida dos noivos deve decorrer debaixo de flores, como a entrada na fazenda.

Nesse momento, a ronqueira do adro da igreja, anunciando a terminação do ato religioso, berrou ao longe, fazendo rolar o tiro pelas quebradas da serra.

— E aquele tiro, papai, que é que quer dizer? — indagou o pirralho.

O velho explicou:

— Aquele tiro, meu filho, é um sinal.

E sorrindo, com ironia:

— Quer dizer... que vão começar as hostilidades.