Testa franzida, fisionomia austera, palavras medidas, o delegado do Distrito inquiria, procurando a verdade, a vítima do delito. Roupa humilde, meias brancas de algodão, sapatos pretos e baratos, os olhos baixos, Maria Odete não fazia senão chorar. Para não demorar, porém, o inquérito, Dona Eufrásia, mãe da menina, ia prestando os esclarecimentos:
— Eu tenho uma pensão na Saúde, "seu" doutor. Dou comida e moradia a onze hóspedes, no meio dos quais aquele amaldiçoado. Quem me ajudava era, esta filha. Pois bem: uma noite, a menina estava deitada, dormindo, coitadinha! E o desgraçado, o João Isidoro, abusou dela!
— Foi exato, rapariga? — indagou a autoridade.
— Foi, sim... senhor! — soluçou a pequena, o lenço nos olhos.
— Você estava deitada?
— Sim, se... nhor!...
— Dormindo?
— Sim, se... nhor!... — gemeu a menina, afogada em soluços.
Letra larga, mergulhando a pena com estrondo no tinteiro, o escrivão tomava notas rápidas do depoimento. E foi quando o delegado, para que nada faltasse, inquiriu, ainda:
— E onde estava você dormindo?
— Eu?
— Sim.
E a rapariga, enxugando, com o força, os olhos muito vermelhos:
— Na cama dele, sim, senhor!