É a vida real um charco infecto,
Uma lagoa pútrida e medonha,
Onde não há ninguém, que os pés lá ponha,
Que não sinta atacá-lo oculto inseto.
Forma-se às vezes o gentil projeto
De ir-se um dia a outro céu, com que se sonha,
E na esperança, embarcação risonha,
Das azuis regiões faz-se o trajeto.
Mas vai o corpo em chagas descosido,
Pôr venenosos vermes lacerado,
Vermes, que só nos deixam, quando enchido
Longo fio de anéis, de sangue inchado:
E no país do sonho estremecido
Guardam-se as dores do país deixado...