Si tinhas o pallor das santas virgens,
Nos labios o aromar dos nenuphares ;
E si tinhas no olhar divas scentelhas,
Si Deus no olympo te daria altares ;
Como, pois, não te amar, rojado ás plantas,
Não morrer a teus pés, ouvindo os trilos
De tua doce voz, que antes ouvil-os
Que ouvir os psálmos de harmonias sanctas ?!
Filha dos sonhos, divinaste o canto,
Que o Verdi traduzio do fundo d’alma.
A propria Malibran cedera a palma,
Louca escutando de tal voz o encanto.
Ai não cantes assim ! tem tal magia
A tua meiga voz, que eu renegara,
Somente para ouvir-te, o sol do día
Que as estradas do céo de luz aclara ;
E cego de ambição me arrojaria
No cháos trevoso da descrença ignara!
Ai não cantes assim ! tem tal poesia
A tua meiga voz, que felicidade
Fora, ao certo, gosar da eternidade
Ouvindo um cysne descantando amores.
Ai não cantes assim! mulher querida,
Pallida imagem do viver das flores!
Que de ouvir-te a harmonia, esqueço a vida,
Esqueço a liberdade e o pranto e as dores,
E os cèos e os homens e o dever e a lida !.