Continuam a proliferar as chamadas "revistas de ano" e continuam também a ser aclamadas e gabadas em todos os tons.
Se elas são procuradas, se os teatros que as representam se enchem, é porque o povo as aprecia.
Não há razão, portanto, para essa grita, essas reclamações, essas petições lamurientas com que andam os nossos atores a pedir aos poderes públicos que lhes venham em auxílio.
O problema está remediado, não é preciso intervenção do Estado, municipal ou federal, para salvá-los, para protegê-los. Tudo está em fabricar "revistas" e representá-las, para que os teatros se encham, os atores ganhem dinheiro e as atrizes façam vibrar as platéias.
O governo não precisa meter-se no caso e a resolução do problema está entregue a iniciativa particular.
De resto, não me parece curial que o Estado vá subvencionar um teatro que só é capaz de produzir, de representar e de atrair o público quando põe em cena revistas.
O povo não quer outro gênero, o povo não gosta de outra coisa, pois que o povo goze, se emocione com seu gênero predileto.
O governo não tem mais nada que se intrometer; e é entregar o teatro com o povo, com os atores e os famosos autores de revistas às pernadas e couplets "do preto no branco".
O mais é malhar em ferro frio, não se obtendo coisa alguma.
O teatro com pretensões artísticas definitivamente morreu entre nós, a menos que queiramos esperar pela lenta evolução para refinamento das peças do Circo Spinelli.
Insistir em esperar que a ação do governo mude de orientação o gosto da multidão, é uma ingenuidade de pasmar.
Se ele só vai espontaneamente às várias "urucabacas" que se representam por aí, não irá às peças do senhor Pinto da Rocha nem que os subdelegados, suplentes, inspectores, guardas civis, soldados, agentes, secretas, encostados obriguem-no.
Convém pôr de lado essa esperança de milagre do governo em matéria de teatro.
O governo é o Deus menos milagroso que há e, quando faz milagres, pesa sobremodo nas nossas algibeiras.
Não vale a pena que ele nos tire mais alguns níqueis das nossas algibeiras, para representar diante das cadeiras vazias do Municipal peças de cavalheiros mais ou menos bem relacionados na nossa melhor sociedade.
Se querem exibir a sua dramaturgia que o façam nas salas dos magnatas e ricaços de Botafogo e Laranjeiras.
Correio da Noite, Rio, 12-1-1915.