A quem darão do Pindo as moradoras

ODE VII.

A quem darão de Pindo as moradoras,

Tão doctas como bellas,

Florecentes capellas

De triumphante louro, ou myrto verde;

Da gloriosa palma, que não perde

A presumpção sublime,

Nem por fôrça de pêzo algum se opprime?

 A quem trarão nas faldas delicadas,

Rosas a roxa Cloris,

Conchas a branca Doris;

Estas, flores do mar; da terra aquellas,

Argenteas, ruivas; brancas e amarellas,

Com danças e corêas

De formosas Nereidas e Napêas?

 A quem farão os Hymnos, Odes, Cantos,

Em Thebas Amphion,

Em Lesbos Arion,

Senão a vós, por quem restituida

Se vê da Poesia ja perdida

A honra e gloria igual,

Senhor Dom Manoel de Portugal?

 Imitando os espritos ja passados,

Scipião, Alexandre e Graciano,

Que vemos immortais;

E vós, que o nosso seculo dourais.

 Pois, logo, em quanto a cithara sonora

S'estimar por o mundo,

Com som docto e jucundo;

E em quanto produzir o Tejo e o Douro

Peitos de Marte e Phebo crespo e louro,

Tereis glória immortal,

Senhor Dom Manoel de Portugal.