A quem não causa desmaio
esta querela recente,
as Mulatas na corrente
em falta do Papagaio?
eu de verdade não caio
nesta justiça em rigor:
ora este tal prendedor
quem seria, ou quem será?
Mangará.
  
Diz, que em tudo tinha graça
a Jandaia abrindo a boca,
dizendo já toca toca,
meu Papagaio, quem passa?
Mangará, que vai à caça:
porém na presente perda
passará a beber da merda,
que não faltará, quem vá,
Mangará.
  
As Mulatas no seu mal
vão disfarçando a paixão,
pois lhes deu uma prisão
o Papagaio Real:
diz, que para Portugal
lindamente dava o pé,
mas uma articula, que
o contrário provará
Mangará.
  
Provará, que ele gostara,
e que não satisfizera,
e muitas cousas dissera,
se o Papagaio falara:
que o Capitão intentara
pagar-lhe em bens de raiz,
pois sendo Mangará quis
transfigurar-se em cará
Mangará
  
Pondo-se o pleito em julgado
dar testemunhas procura
com o Primo Rapadura,
e um compadre seu melado:
mas há de ficar borrado
como o tal Primo ficou,
quando a Mulata o purgou
naquele triste aracá
Mangará.
  
Na gaiola apassarada,
onde as duas pobres vejo,
a primeira entrou sem pejo,
mas a segunda pejada:
arrebentou de embuchada
um presozinho pequeno,
que criado com veneno
prisões não estranhará,
Mangará.
  
Todo o povo, que isto vê,
pergunta em seu desabono,
não ao Papagaio, ao dono,
que casta de pássaro é;
eu por me fazer mercê,
dou o sentido cabal,
e um contrafeito asnaval
empenado em Pirajá
Mangará.