Mariana
E pois eu não dizia? O tal mulato João
É um grande patife, um grande safadão.
Fugiu da terra dele, andou por toda parte
Ganhando p'ra viver do fruto de sua arte.
Marciana
Fugiu!!
Mariana
E porque não!
Marciana
Cometeu algum crime?
De medo estou tremendo como um frágil vime!
Matou? Roubou? Feriu?
Mariana
Cousa muito pior!
Marciana
Oh pobre de lzabel! Casar c'um celerado!
Que hei de fazer, meu Deus! Dizei-me por favor!
Valei-me, oh santa Mãe de Deus crucificado!
Mariana
Tarde piaste mísera, desgraçada avó!
Ai que não falo mais, está na garganta um nó!
Chico
Mal venho eu chegando e vejo um tal berreiro?
Que quer dizer, pois, isto?
Mariana
É que o mulato João...
Marido de Izabel!... fugiu do cativeiro!
Marciana
Ah!
Chico
D'onde?
Mariana
Da fazenda de um tal seu capitão,
Major, ou coronel da guarda nacional,
Um diabo qualquer! que reside em São Paulo.
Marciana
Mas quem lhe disse?
Mariana
Ouvi.
Marciana
De quem?
Mariana
No temporal
Que desabou de tarde, a venda do Gonçalo
Recebeu a dois homens desiguais na cor;
Um deles era João...
Marciana
Outro...
Mariana
Um libertador,
Que respondia assim ao esposo de Izabel:
— Ninguém lhe aconselhou para você fugir; —
Você foi se casar: pois vinho sem tonel
Não se deve comprar. Enfim vou lhe servir. —
Marciana
E depois?
Mariana
Conversaram baixinho... depois
Passou enfim a chuva e foram todos dois.
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Havia de afinal, por cúmulo de desdita,
Manchar o sangue meu aquela desgraçada!
Manchaste o sangue meu, co'a tacha vil maldita
Hás de ser infeliz! neta amaldiçoada!...