Adeoses da Imperatriz Amelia ao menino-imperador adormecido

ADEOSES


DA

IMPERATRIZ AMELIA

AO
MENINO-IMPERADOR
ADORMECIDO.
Rio de Janeiro.
TIPOGRAPHIA DE R. OGIER, RUA DA CADEIA N. 16.

« 1831. »
ADEOSES


DA

IMPERATRIZ AMELIA

AO
MENINO-IMPERADOR
ADORMECIDO.



Adeos, menino querido, delicias da minha alma, alegria dos meus olhos, Filhinho que meu Coração tinha adoptado! adeos! para sempre! adeos !

O quanto és formozo n’este teu repouso. Meus olhos chorosos não se podem fartar de te contemplar! A Magestade de huma Corôa, a debilidade da infancia, a innocencia dos Anjos cingem tua engraçadissima frente de hum resplendor mysterioso , que fascina a mente.

Eis o expectaculo mais tocante que a terra póde offerecer. Quanta grandeza, quanta fraqueza a humanidade encerra representadas por huma criança! huma corôa, e hum brinco! hum throno, e hum berço!

A purpura ainda não serve senão para estófo, e aquelle que commanda exercitos, e rege hum Imperio, carece de todos os desvelos de huma mãi.

Ah ! querido menino , se eu fosse tua verdadeira mãi se minhas entranhas te tivessem concebido, nenhum poder valeria para me separar de ti! nenhuma força te arrancaria dos meus braços. Prostrada aos pés daquelles mesmos que abandonarão meu espozo, eu lhes diria entre lagrimas!! não vedes mais em mim a Imperatriz; mas huma mãi desesperada. Permitti que eu vigie vosso thesouro. Vós o quereis seguro e bem tratado; e quem o haverá de guardar, e cuidar com maior devoção? Se não posso ficar a titulo de mãi, eu serei sua criada ; ou sua escrava!!!

Mas tu, Anjo de innocencia, e de formozura , não me pertences senão pelo amor que dediquei á teu Augusto Pai. Hum dever Sagrado me obriga a accompanhal-o no seu exilio, á travez dos mares, ás terras estranhas! adeus paiz para sempre! adeos. !

Mais Brazileiras! Vós que sois meigas, e afagadoras dos vossos filhinhos a pár das rolas, dos vóssos bosques, e das beija-floras das campinas floridas, suppri minhas vezes; adoptai o Orfão-Coroado , dai-lhe todas hum lugar na vossa familia , e no vosso coração.

Ornai o seu leito com as folhas do arbusto Constitucional ! embalsamai-o com as mais ricas flores da vossa eterna primavera ! entrançai o jasmim, a baunilha, a rosa, a angelica, o cinamomo para coroar a mimoza testa, quando o pezado diadema d’ouro a tiver machucado.

Alimentai-o com a ambrosia das mais saborosas frutas; a atta, o ananás, a canna melliflua; acalantai-o à suave entoada das vossas maviosas modinhas.

Afugentai longe de seu berço as aves de rapina, a sutil vibora, as crueis jararacas, e tambem os vis aduladores, que envenenão o ár que se respira nas Cortes.

Se a maldade, e a traição lhe prepararena siladas, vós mesmas armai em sua defeza vossos espazos com a espada , o mosquete, e a bayonneta.

Ensinai á sua voz térna as palavras de mizericordia que consolão o infortunio, as palavras de patriotismo que exaltão as almas generosas , e de vez em quando susurrai ao seu ouvido o nome da sua mãi d’adopção.

Mais Brasileiras, eu vos confio este preciosissimo penhor da felicidade de vosso paiz , e de vosso povo : ei-lo tão bello e puro como o primogenito d’Eva, no paraiso. Eu vo-lo entre-go. Agora sinto minhas lagrimas correr com menor amargura.

Ei-lo adormecido. Brasileiras ! Eu vos conjuro que o não acordeis antes que me retire. A boquinha molhada do meu pranto, ri-se à semelhança do botão de rosa ensopado com o orvalho matutino. Elle se ri , e o pai e a mái o abandonão para sempre.

Adeos Orphão-Imperador , victima da tua grandeza antes que a saibas conhecer. Adeos Anjo d’innocencia, e de formosura !! adeos! toma este beijo! e este...... e este ultimo!, adeos! para sempre! adeos!

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