- «Adeus, mãe!, adeus, querida
Que eu já não posso coa vida
E os anjos chamam por mim.
Adeus, mãe, adeus! ... Assim,
Junta os teus lábios aos meus
E recebe o último adeus
Neste suspiro... Não chores
Não chores: aquelas dores
Já sinto acalmar em mim.
Adeus, mãe, adeus!... Assim,
Junta os teus lábios aos meus...
Um beijo - um último... Adeus!»

E o corpo desanimado
No colo da mãe caía;
E ela o corpo... só pesado,
Só mais pesado o sentia!
Não se lamenta, não chora,
E quase a sorrir, dizia:
«Que tem este filho agora,
Que tanto pesa? Não posso...»
E uma a uma, osso por osso,
Com a mão trémula tenta
As mãozinhas descarnadas,
As faces cavas, mirradas,
A testa inda morna e lenta.
«Que febre, que febre!», diz;
E em tudo pensa a infeliz,
Tudo que há mau lhe ocorreu,
Tudo - menos que morreu.

Como nos gelos do Norte
O sono traidor da morte
Engana o desfalecido
Que imagina adormecer,
Assim cansado, esvaído
De tão longo padecer,
Já não há no coração
Da mãe força de sentir;

Não tem já lume a razão
Senão só para a iludir.

Acorda, ó mãe desgraçada,
Que é tempo de despertar!
Anda ver a eça armada,
As luzes que ardem no altar.
Ouves? É a rouca toada
Dos padres a salmear!...
Vamos, que a hora é chegada,
É tempo de o amortalhar.

E os anjos cantavam:
«Aleluia!»
E os santos clamavam:
«Hosana!»

Ao triste cantar da Terra
Responde o cantar do Céu;
Todos lhe bradam: « Morreu!»
E a todos o ouvido cerra.

E os sinos a tocar,
E os padres a rezar,
E ela ainda a acalentar
Nos braços o filho morto,

Que já não tem mais conforto,
Mais sossego neste mundo
Que o jazigo húmido e fundo
Onde há-de ir a sepultar.

Levai, ó anjos de Deus,
Levai essa dor aos Céus.
Com a alma do inocente
Aos pés do Juiz Clemente
Aí fique a santa dor
Rogando à Eterna Bondade
Que estenda a imensa piedade
A quantos pecam d'amor.