<poem>
Você perdoe, Nariz nefando, Que eu vou cortando E ainda fica nariz em que se assoe.
G. de Mattos.Ahi vai, leitores, Um monstro esguio, Que em corropio De uma rua tem posto os moradores.
Mayor que a prôa Da náo de linha, Tem camarinha Aonde á tarde se obumbra a tocha côa,
Rinoceronte
De tromba enorme,
Mais desconforme
Do que o mero, a baleya, o catodante
Nariz bojante,
Recurvo e longo,
Que lá do Congo
Alcança o Tenerife e monte Atlante
De raça slava
Tremenda espiga,
E ha quem diga
Que n’ella Poliphemo cavalgava,
Nariz alado,
De côr bringela,
Que de pinguella,
Serviu no amasonas celebrado.
E se não mente
A tradição,
De lampeão
Fazia n’um pharol da Lybia ardente.
Nariz de pào,
Com tal composto.
Que sobre o rosto
Tem fórma de bandurra ou birimbáo.
Cavado e torto,
Formal tripeça,
Fundido á pressa
Nas forjas de Vulcano — por aborto,
Nariz de forno,
De amplas badanas,
Que mil bananas
Aloja em cada venta, sem transtorno.
E’ tam famoso
O tal nariz,
Que por um triz
Não fez parte do cabo tormentoso.
Qual catatáo
Ba testa pende,
E alguem intende
Ser ninho de coruja ou picapáo.
Nariz de barro,
Mas não cosido,
Que suspendido,
Sobre as grimpas da lua vai de esbarro.
De quanto fiz
Não se enraiveça;
Não enrubeça.
Que p’ra dar e vender sobra nariz.