Mote
Ai meu bem! ai meu Esposo!
ai Senhor Sacramentado!
que mal pode o disfarçado
ocultar o poderoso.
1Ai meu Deus, que já não sei
vendo, que vos ausentais,
dizer, como me deixais
neste abismo, em que fiquei
ai Senhor! e que farei
para alcançar venturoso,
o que por menos ditoso
perdi, ou talvez de indigno:
ai meu Redentor divino!
2Ai meu bem! ai meu Esposo
Ai Senhor, que me deixais
nesta dura soledade
morto na realidade,
bem que vivo me vejais:
mistérios de amor guardais,
porque estais inda encerrado
em dar-me a vida empenhado,
e do vosso amor a palma:
ai amante da minha alma!
Ai Senhor Sacramentado!
3Se nos disfarces metido
roubar as almas quereis,
que importa, vos disfarceis,
ficando à vista o vestido?
mas de que (já conhecido
pelo vestido encarnado)
vos importa o rebuçado:
pois conhecido o poder,
tanta luz escurecer
Que mal pode o disfarçado.
4Diáfano, e transparente
esse cristal puro, e fino
com resguardar o divino
declara o onipotente:
tanto nele permanente
está sempre o majestoso,
que então brilha mais lustroso
pelas veias do cristal,
e oculta instrumento tal
Ocultar o poderoso.