(Caps. XXXVIII, XXXIX.)
E fallando o Senhor a Job, no meio
De um redomoinho, disse:—Quem é este
Que mistura sentenças com palavras
Vazias de sentido ?
Cinge os teus lombos, homem ; cinge e falla.
Onde eras tu, quando eu lançava á terra
Os fundamentos seus ? Para medil-a
Quem o cordel exacto lhe ha lançado ?
Sobre qual chão as bases lhe repousam ?
Quem pòz diques ao mar, porque do leito
Jamais sahisse, como sai o infante
Do ventre que o gerou ? Para envolvel-o,
Como é de uso ao menino, quem sobre elle
A nuvem lhe deitou pesada e escura ?
Eu fui ; fui eu quem lhe marquei limites
E lhe tranquei as portas ;
Foi minha a voz que lhe bradou:—Detem-te
Aqui. Daqui não parrarás avante.
Que ! A lei que regula a estrella d'alva
Acaso é tua lei? Acaso á aurora
Marcaste o seo destino ?
Sabes onde rezide a luz e a noite?
De ti mesmo soubeste que nascias
E quantos sóes habitarás na terra ?
V}e; darás tu a força do cavallo
E na garganta lhe porás o rincho?
Eil-o respira, e o respirar de fogo
Derrama em torno o susto ; impaciente
Co' a para escava a terra,
Pula brioso ao toque na busina,
Contra o inimigo vòa
Medo não sente, nem recua á espada.
Ruja sobre elle a aljava, a lança, o escudo,
Elle vai, rincha, rompe, espuma e zomba
Do clangor das tombetas.
Machado de Assis