Ilustríssimo Senhor

A Câmara Municipal desta cidade encarregou-nos, no ano de 1845, de analisarmos e revermos a obra intitulada — Anais da Ilha Terceira — que seu autor, o cidadão Francisco Ferreira Drummond, lhe oferecer para ser impressa à custa do cofre municipal. Em sessão de 25 de Março do mesmo ano demos o nosso parecer. Nele ponderámos que, contendo esta obra muitos documentos e notícias importantes acerca da história deste país, a par de muitos inúteis e de uma redacção pouco apurada, só poderia convir a sua publicação depois de convenientemente corrigida e apurada. A Câmara então aceitou o oferecimento da obra, e de novo nos incumbiu da direcção e fiscalização de todos os trabalhos da sua impressão, em conformidade do parecer que havíamos dado.

Dedicámos pois o nosso desvelo à revisão das provas, eliminando ou corrigindo o que achámos menos acertado, assim na exposição dos factos, como no que toca à pureza da língua e execução tipográfica, trabalho certamente não menos penoso que difícil e aturado.

Não há duvida que o autor desta obra é digno do reconhecimento público pelo relevante serviço que fez à sua pátria, revolvendo e explorando os arquivos públicos e particulares, colhendo e coordenando notícias e tradições históricas desde o descobrimento da ilha, e copiando quantos documentos pôde encontrar relativos ao seu governo civil, militar e eclesiástico: não há dúvida que esta obra tem merecimento real, oferecendo reunidos muitos elementos necessários, assim para a história geral deste arquipélago, como particularmente para a desta ilha, sua antiga capital, e teatro ilustre de muitos sucessos memoráveis, mas carecia de um trabalha prolixo e desvelado, semelhante ao que tivemos, para aparecer, como aparece, sem grandes erros e defeitos notáveis. Pena é que não possamos fazer chegar até nossos dias a continuação desta obra!

Temos pois concluído a nossa tarefa, e por mui satisfeitos assaz recompensados nos daremos deste nosso espinhoso trabalho, se esta ilustre municipalidade o julgar digno da sua aprovação, assegurando a V. S. que empregámos nossos esforços para ele sair o menos imperfeito possível, no que particularmente tivemos em vista satisfazer á confiança que a mesma ilustre Câmara em nós depositara.

Deus Guarde a Vossa Senhoria, Angra do Heroísmo, 18 de Junho de 1850.

— Ilustríssimo Senhor Presidente da Câmara Municipal desta cidade.

— António Moniz Corte Corte-Real — José Augusto Cabral de Melo.