Anarda cingindo uma espada

Varonilmente arrogante
Anarda se considera,
Já na fereza da espada,
Já na espada da fereza.

Em dois assombros unidas,
Duas Deusas se vêem nela;
Fermosa Vênus se aclama,
Armada Palas se ostenta.

Não é muito que valente
Se preze, pois sempre altera,
Valentias no donaire,
Valentias na beleza.

Quis aumentar os rigores;
Por que matasse soberba,
Já da beleza nas luzes,
Já do ferro nas violências.

Porém parece frustrado,
Se o mortal ferro se empenha;
Porque quando esgrime o ferro,
Já deu morte à gentileza.

Porém quando mata os peitos,
Que ressuscitam de vê-la,
Noutra morte os ameaça,
Noutra vida os atropela.

Se já não é, que cingindo
Dura espada, representa
Da beleza a guerra dura,
Que a beleza é dura guerra.

Armada do agrado, e ferro,
Um, e outro brio aumenta,
Sendo mais que armada amada,
Mais que belicosa bela.

Desigual c'o Deus menino
Se arma, ela a luz, ele a venda,
Ela ornada, ele despido,
Ela a espada, Amor a frecha.

Deixa as armas, lhe disse,
Cruel, atenta
Que nas luzes fulminas
Armas mais feras.

Se é para render vidas,
As armas deixa;
Todo o peito a teus olhos
A vida entrega.

De ponto em branco armada
Sempre te asseias,
De ponto a boca em branco
A fronte amena.