Anarda passando o Tejo em uma barca

O Cristal do Tejo Anarda
Em ditosa barca sulca;
Qual perla, Anarda se alinda,
Qual concha, a barca se encurva.

Se falta o vento, Cupido
Batendo as asas com fúria,
Zéfiro alenta amoroso,
Aura respira segura.

Aumenta o Tejo seus logros,
Que com tanta fermosura
Cristal em seu colo bebe,
Ouro em seu cabelo usurpa.

Se bem nas águas copiado,
Ali se viam confusas
Ondas de ouro no cabelo,
E do cristal ondas puras.

Já deixa o nome de rio,
Oceano se assegura,
Pois a branca Tétis logra,
Pois o claro Sol oculta.

Corta o aljofre escumoso,
Que como Vênus se julga,
Ufano se incha o aljofre,
Cândida se ri a escuma.

De seus olhos foge o rio,
Que pois nele a vista ocupa,
Evitar seus olhos trata,
Fugir às chamas procura.

Logrando o cabelo a barca,
(Se bem feliz, o não furta)
Um por véu de ouro se jacta,
Outra por Argo se inculca.

Ardem chamas n'água, e como
Vivem das chamas, que apura,
São ditosas Salamandras
As que são nadantes turbas.

Meu peito também, que chora
De Anarda ausências perjuras,
O pranto em rio transforma,
O suspiro em vento muda.