Contra os impérios da noite
Anarda bela se vê,
Que ta noite mal podia
A tantos sóis ofender.

Oh como a noite se queixa
Contra a brilhadora lei!
Pois rompem seu privilégio,
Pois revogam seu poder.

Só nisto noite parece,
Que em seu rosto, olhos cruéis,
Cândida Lua descobre,
Luzidas estrelas tem.

Se no inferno condenada
Habita a noite infiel;
Como pode a noite infausta
A glória de Anarda ver?

Se conduz a noite o sono,
Não pode permanecer,
Que Anarda embarga o repouso,
Que Anarda desvela a fé.

Se a noite afeta silêncios,
Não pode silêncios ter;
Porque em queixa lastimosa
Clama o suspiro fiel.

Se borrifa águas de Letes,
Não pode o Letes verter;
Pois dela se acordam todos,
Dela se esquece ninguém.

Deixa Anarda tantas luzes,
Que inda a noite em seu temer
Oculta Anarda, se encolhe,
Ausente o Sol, se detém.