Á esquerda, varanda de colunas, tendo no meio cancela de grades e escada para o jardim e pomar que se estende para o fundo, e para a direita; ao fundo e à direita, portão largo, à frente espaço livre e pequenos bancos de pau.
Cena primeira
editarPeres e Mendes, que descem a escada.
PERES – Como estão mudados os tempos! o provincial dos franciscanos fora do convento ainda depois da meia-noite!...
MENDES – Ajudando a bem morrer uma pobre agonizante cumpria o seu dever.
PERES – Aposto que ajudava a mal viver a alguma pecadora de predileção...
MENDES – Estás até maldizente, compadre!
PERES – Pois se nem posso ir para a cidade! tinha de fazer uma remessa de açúcar para Lisboa, e dinheiro a receber hoje.
MENDES – Dá cá tabaco (Tomam). Vamos para a cidade...
PERES – Deixando aqui a mecha ao pé do paiol da pólvora como tu dissestes. Não vou.
MENDES – A comadre sabe olhar para as filhas, e tu estarás de volta ao meio-dia...
PERES – Acreditando que o Benjamim é Antonica, tua comadre pode descuidar-se, e a Antonica declarar-se Benjamim a Inês ou Brites. Não vou. (Um criado traz uma carta; Peres abre e lê) E do provincial!... (A um aceno, vai-se o criado) Daqui a uma hora Fr. Antão e dois leigos vêm receber o rapaz.
MENDES – Estás enfim livre da Antonica da Silva.
PERES (Triste) – Livre... do filho de Jerônimo! compadre, vamos para a cidade...
MENDES – Não: agora deves ficar em casa... Fr. Antão vem...
PERES – Não quero ver sair, como expulso... devo estar fora... Escreverei a Jerônimo dizendo que em minha ausência e contra os meus desígnios...
MENDES – Hipocrisia e mentira... compadre?
PERES – Antes dez filhos do que uma filha!... e então duas!...
MENDES – Que serviços deves ao teu amigo Jerônimo?...
PERES – Muitos; mas um! olha: éramos soldados do mesmo corpo e da mesma companhia na África; em um combate eu ia talvez ser morto por um golpe de lança... Jerônimo atirou-se adiante de mim... recebeu a lançada no peito... e caiu... esteve a morrer dois meses, e escapou por milagre. (Comovido) Toma tabaco, compadre!
MENDES – Não quero! é tabaco de homem ingrato.
PERES – Velho rabugento, que querias que eu fizesse?...
MENDES – Ontem devias ter dito tudo, tin tin por tin tin à comadre.
PERES – E as meninas?... e o Benjamim? isto é, ele com elas? ...
MENDES – As meninas também deviam ficar sabendo toda a história do passado e do presente...
PERES – E para coroar a obra eu mandaria minhas filhas brincar o vai-te esconder com o Benjamim...
MENDES – Não; mas dirias ao filho de Jerônimo: eis aí, minhas duas filhas, escolhe uma para tua noiva.
PERES – Compadre, tu falas sério?...
MENDES – Eu falo sempre sério. Agora que te dei a lição, dá cá tabaco (Tomam).
PERES – Não desejo... não quero que minhas filhas se casem.
MENDES – Que é? pensas mesmo que consentirei em que pelo menos minha afilhada sofra os martírios de solteirona?... estás muito enganado! hei de casá-la e bem a gosto seu... eu já lho disse, ouviste?...
PERES – Começas a aborrecer-me! vamos para a cidade.
MENDES – Não deves ir!
PERES – Hei de ir...
MENDES – Estás com remorsos!
PERES – Olha: farei por Benjamim o que faria por meu filho. Adoto-o; mas aqui com as meninas, não. (A escada) Joana, desce! (A Mendes) Vou preveni-la da vinda de Fr. Antão, mas sem esclarecê-la sobre o fim que o traz aqui. Darei instruções em regra...
MENDES – Compadre, o teu tabaco é melhor do que a tua consciência. Dá cá tabaco (Tomam).
Cena II
editarPeres, Mendes e Joana, que desce a escada.
PERES – A Antonica da Silva?...
JOANA – Encerrou-se no quarto, que lhe destinamos.
PERES – E as meninas?...
JOANA – Bordavam ao pé de mim.
PERES – Manda-as bordar sozinhas no sobrado...
JOANA – Então a Antonica é moça de costumes suspeitos?
PERES – Não; mas queria casar contra a vontade do pai, um mau exemplo para as nossas filhas. Anda, preciso dizer-te uma coisa... (Vão indo).
MENDES – Comadre; pode ser que seu marido se salva, mas não entra no céu sem passar pelo purgatório ( Vão-se pelo portão).
Cena III
editarInês, observa da varanda e depois desce.
INÊS – Até o meio dia ou pouco mais ficamos sós. Não sei que sinto... desejo, mas não posso olhar para o moço!... há no meu seio alvoroço, na minha alma confusão... não me entendo! quando ele se aproxima, estremeço toda... tenho lido em novelas tantas lições de amor! ai, meu Deus!... se eu amo, o amor incomoda muito no princípio (Canta)
- Depois daquele abraço e dos beijos sem conta
- Que ele me deu, e eu dei.
- Sabendo que era homem, nem pude ver afronta
- No ardor que provoquei...
- Mas agora...
Não posso olha-lo, ai, não!
Junto dele bisonha
O pejo me devora...
Sou toda olhos no chão...
Tenho tanta vergonha!
- De moço em roupa justa vestida ele me viu
- E de calções até
- Culpada mamãe só, que foi quem me vestiu
- E fez-me Almotacé
- Mas agora...
Não posso olha-lo, ai, não! !...
Junto dele bisonha
O pejo me devora,
- Sou toda olhar no chão...
- Tenho tanta vergonha!
Cena IV
editarInês e Benjamim, que desce a escada.
BENJAMIM – Este momento é um milagre de amor...
INÊS – Ah! (Medrosa) mamãe... (Olhando).
BENJAMIM – Não tarda; é por isso que tenho pressa. Quisera ficar aqui vestido de mulher toda a minha vida; mas tanta dita não dura: esperam-me perseguição, tormentos...
INÊS – Corre algum perigo?...
BENJAMIM – Pouco importa: resistirei à mais cruel adversidade, se merecer levar comigo a esperança do seu amor. Eu amo-a!
INÊS – Senhor...
BENJAMIM – É que sua mãe não tarda... não tarda... (Toma-lhe a mão).
INÊS – Tenho muita vergonha...
BENJAMIM – Entre duas moças, como nós somos, não devem haver essas vergonhas! eu amo-a! e mamãe não tarda...
INÊS – Não sei... não ouso...
BENJAMIM (Larga a mão de Inês) – Ora está... aí vem sua mãe... (Triste) sou muito infeliz!
INÊS (Voltando o rosto e abaixando os olhos) – Amo-o.
BENJAMIM – Ah! brilhou a luz do meu futuro! a mamãe agora pode chegar... pode chegar...
Cena V
editarInês, Benjamim, Joana e Brites.
JOANA (A Benjamim) – Que fazia aqui junto de Inês?
BENJAMIM – Não fazia nada, não senhora: como ainda sou Antonica da Silva, tratava de salvar as aparências.
JOANA – Creio que apertava a mão de minha filha...
BENJAMIM – Qual! não apertava, não senhora: as moças, quando passeiam no jardim, costumam às vezes dar-se as mãos. Eu estava fingindo costumes de mulher.
JOANA (A Inês)— Que te dizia este se... esta senhora?
INÊS – Eu me sentia muito vexada... não sei bem... penso que me falava... de Macacu...
BENJAMIM – Exatamente: falava de Macacu.
JOANA – E que dizia? (Senta-se, e Brites a seu lado; Inês em outro banco).
BENJAMIM (Em pé) – Descrevia as festas pomposas lá da vila: então as da igreja dos franciscanos! quando o guardião sobe ao púlpito, grita com uma eloqüência que faz dor de ouvidos (Senta-se junto de Inês) E as procissões!...
JOANA – Brites, senta-te ao pé de Inês; venha o senhor... a senhora para cá (Brites e Benjamim trocam os lugares).
BENJAMIM – Eu apenas salvava as aparências: as moças gostam de sentar-se juntinhas. Mas... os franciscanos.
JOANA – Os franciscanos? (À parte) Quem sabe?... (A Benjamim) quero ouvi-lo; ainda não me contou a sua história verdadeira (Leva-o para o fundo).
BRITES – Inês, mamãe já desconfia que gostas do Benjamim, e opõe-se...
INÊS – Para mim oposição é estímulo: sim! amo este moço e vou dizê-lo a meu padrinho...
BRITES – Ai, cabeça de novelas, vê lá, se te fazes heroína!...
INÊS – Se fosse preciso...
BRITES – Tonta! olha meu pai!...
INÊS (Encolhendo os ombros) – Tenho meu padrinho.
BRITES – Que faremos até ao meio-dia?... vou mandar trazer almofadas e banquinhas: quero ver se a Antonica da Silva faz rendas (Sobe a escada, dá ordens e volta).
JOANA (Voltando com Benjamim) – Ainda bem que não o prenderam.
BENJAMIM – Fugi, mas só à vingança do potentado; ao medo da guerra, não: as senhoras podem acreditar, que metido nestas saias está um homem.
JOANA – Provou-o, dando a bofetada no capitão-mor.
INÊS – Mamãe, ele deu bofetada em algum capitão-mor?...
JOANA – E por isso o perseguem, querem assentar-lhe praça de soldado... mas é preciso não falar nisto: segredo!...
BRITES – Recrutamento malvado! Em pouco tempo só ficarão velhos para noivos das moças. E para desesperar!
JOANA – (Vendo escravos que trazem quatro banquinhas e quatro almofadas) – Faremos rendas?... lembraram bem (Sentam-se nas banquinhas e tomam as almofadas).
INÊS (À parte) – Recrutamento e vingança... é horrível! (Senta-se).
JOANA (A Benjamim) – O senhor parece que não é novo na almofada!
BENJAMIM – O pior é que eu faço rendas; mas não as tenho.
BRITES – A senhora Antonica da Silva aprendeu a fazer rendas com os frades? (Trabalham todas).
BENJAMIM – Com os frades? não senhora; aprendi com as freiras; ora... eis aí... estou atrapalhado (A Inês) Pode ensinar-me como se trocam os bilros neste ponto?...
JOANA – Ensino eu... deixe ver...
BENJAMIM (À parte) – Mamãe Joana não me deixa salvar aparência alguma! (A Joana) Muito obrigado, já acertei (Troca os bilros com ardor).
BRITES – Vamos cantar?... (A Benjamim) a senhora Antonica da Silva que sabe tudo, sabe cantar o romance de Dagoberto?...
BENJAMIM – Canto, mas não sei se entôo.
BRITES – Cantemo-lo pois... ouviremos a sua voz... olhe que deve ser de tiple.
BENJAMIM – Não, senhora; será de tenor; mas só por culpa da natureza que me deu por engano garganta de homem (Cantam)
BENJAMIM – Dagoberto o cavaleiro
- Sem pajem nem escudeiro
- Do torneio a liça entrou
JOANA, BRITES e INÊS – Viseira baixa e no escudo
- Belo mote que diz tudo
INÊS – “De Beatriz escravo sou”
TODOS – De Beatriz escravo sou.
BENJAMIM – Dez cavaleiros desmonta
- Dos mais já nenhum afronta
- O paladim vencedor.
JOANA, BRITES e INÊS – Quem é, o conde pergunta
- Quem é a condessa ajunta.
INÊS – E Beatriz murmura amor!
TODOS – E Beatriz murmura amor.
BENJAMIM – Dagoberto triunfante
Ao conde chega ofegante,
Ergue a vieira e lhe diz:
JOANA, INÊS e BRITES – Não sou barão mas guerreiro,
- Fui armado cavalheiro;
INÊS – E escravo sou de Beatriz.
TODOS – Escravo sou de Beatriz.
BENJAMIM – Dagoberto espera e o conde
Olhando a filha, responde:
Cavaleiro, sê feliz!
JOANA, INÊS e BRITES – Quem é paladim tão bravo
- De Beatriz não seja escravo,
INÊS – Seja esposo de Beatriz.
TODOS – Seja esposo de Beatriz.
BRITES – A senhora Antonica da Silva canta muito bem.
Cena VI
editarInês, Benjamim, Joana, Brites e Matinho assustado.
MARTINHO – Um oficial seguido de muitos soldados tem já a casa cercada, e quer entrar por ordem do vice-rei.
JOANA – Oh!... e Peres ausente!...que será?... (Inês aflita).
BENJAMIM – Claro como o dia! vem prender-me... e eu não me escondo mais... entrego-me.
INÊS —(Aflita) —Não!... não!...
BENJAMIM – Sim: só me assusta o ridículo (A Joana) Minha senhora, me empreste um casaco e um colete do Sr. Peres... Calções eu trago por baixo das saias.
JOANA – Não; meu marido me recomendou a segurança de sua pessoa...
INÊS – Brites, vai escondê-lo atrás do altar da capela... depois sai e tranca a porta...
JOANA – É um recurso... leva-o, Brites, vá senhor...
BENJAMIM – Perdão! quero entregar-me preso...
INÊS – E eu não quero!... (Terna) peço-lhe que vá... entende?... eu peço que vá...
BENJAMIM – Ah! eu vou! (À parte) Positivamente... agora foram-se as aparências!... (Segue Brites e vai-se)
MARTINHO (Vindo do fundo) – Um soldado já está de sentinela ao portão...
JOANA – Faze entrar o oficial (Martinho vai-se: Joana à parte) O lhe peço de Inês, e a obediência do rapaz tem dente de coelho... mas agora não é tempo de tomar contas... estou a tremer...
Cena VII
editarInês, Joana, Alferes Paula, soldados, gente da casa a observar.
PAULA – Em nome e por ordem do senhor vice-rei conde da Cunha!...
JOANA – Que manda o senhor vice-rei!
PAULA – Minha senhora, incumbido de importante diligência, tenho de correr a sua casa em busca severa.
JOANA – Meu marido está ausente: vou mandar chamá-lo já.
PAULA – É inútil: trago ordens precisas, e não posso esperar. Vou proceder à busca.
JOANA – Pode ao menos dizer-me com que fim?...
PAULA – O Sr. Peres Nolasco tem asilado em sua casa um rapaz que se disfarça vestido de mulher, e veio ontem da vila de Macacu. ... chama-se Benjamim.
INÊS – E perseguido cruelmente; porque deu e devia dar uma bofetada no capitão-mor de Macacu.
JOANA – Menina!...
PAULA – A senhora o sabe? ... pois eu venho prender esse valentão Benjamim.
INÊS – Aqui o tem: sou eu.
JOANA – Oh!...
PAULA (A Inês) – Está preso.
JOANA – Não! esta é Inês, é minha filha!.
INÊS (Alto a Joana) – Minha senhora, eu agradeço a sua nobre generosidade... não devo abusar mais...
PAULA – Vamos!... siga para diante... (A Inês).
JOANA – Mas eu lhe juro que esta é minha filha!
INÊS (Ao oficial) – Conceda um momento à gratidão do pobre asilado... devo abraçar a minha protetora (Abraçando Joana) Mamãe, não tenha medo; enquanto vou presa, salve Benjamim e mande avisar a meu padrinho. (A Paula) Estou às ordens.
JOANA – Senhor oficial, veja o que faz! não pode levar minha filha! não pode!... (Atirando-se a Inês).
PAULA (Apartando Joana) – Minha senhora... retire-se!...
JOANA – Não leve minha filha!... ela se chama Inês!... não a leve!... o Benjamim está escondido lá dentro... eu lho trago!...
INÊS – Obrigado, minha senhora!... mas é inútil.
PAULA – E esta? pretende fazer-me crer que uma verdadeira donzela e de família honesta deseje ir presa para um quartel de soldados?... (A Inês) Como te chamas? ...
INÊS – Benjamim.
PAULA – Marcha para diante!
JOANA – Minha filha!... doida!... senhor oficial, é minha filha!... (Agarrando-se a Inês).
PAULA (Separando as duas) – Senhora!... não agrave o crime de seu marido... curve-se às ordens do senhor vice-rei Conde da Cunha!...
JOANA – Oh!... ai, meu Deus!...
PAULA – (Entrega Inês a dois soldados) – E o tal Benjamim é bem bonito... quinze anos talvez... nem sinal de barba... e já dá bofetadas. (A Joana) Minha senhora!... (Saúda e vai-se).
JOANA – É minha filha!... é uma infâmia levar presa minha filha!... (Seguindo-o).
Cena VIII
editarJoana, e logo Martinho.
JOANA (Voltando do fundo) – Inês!... que loucura! mas lá vai!... (Torcendo as mãos) minha filha!... Martinho! Martinho!
MARTINHO – Minha senhora...
JOANA – A cavalo!... a correr!... vai participar ao senhor Peres esta desgraça.
MARTINHO – Já... o cavalo está pronto (Corre, saindo pelo fundo).
JOANA – Peres ficará furioso... tenho medo!... (Correndo ao fundo) Martinho!... dá também e logo notícia de tudo ao compadre Mendes!... vai falar ao compadre Mendes... (Volta) oh! que loucura de Inês!... desgraçada!... insensata! doida!...
Cena IX
editarJoana, Brites e Benjamim.
BRITES – Mamãe!... mamãe!... isto é verdade?...
BENJAMIM – Porque não me mandou chamar logo? (Corre ao fundo).
BRITES – Sim, mamãe, devia ter mandado chamar!...
JOANA – Perdi a cabeça... Inês me desatinou...
BENJAMIM (Voltando) – Ah!... é tarde!... mas juro pelos frades franciscanos... não, eu não juro mais pelos frades; mas juro por Inês, que não há de ser tarde!...
JOANA – O senhor virou o miolo de minha filha!... entrou em nossa casa, para trazer-nos a desgraça!...
BENJAMIM – Vou já entregar-me à prisão, declarando a todos o meu sexo e o meu caráter de Benjamim, sacristão do convento de Macacu (Saia correr).
JOANA – Inês endoideceu... foi esse diabo!...
BRITES —. Ela o ama: eu já esperava desvarios de Inês!...
Cena X
editarJoana, Brites e Benjamim a correr.
JOANA – Ainda o senhor!...
BENJAMIM – Esbarrei com três franciscanos que vem entrando para aqui... o negócio dos frades é por força comigo.
JOANA – Que venham!
BENJAMIM – Mas eu quero salvar a menina Inês! vou atravessar a casa e fujo pela porta da frente (Arregaça o vestido e corre para a escada).
JOANA (Seguindo-o) – Tranquem a cancela da escada! (Trancam).
BENJAMIM (Descendo a escada precipitado) – Esta mãe desnaturada não quer que eu lhe salve a filha!... mas por aqui hei de achar saída (Corre pela direita).
Cena XI
editarJoana, Brites, Fr. Simão, dois leigos franciscanos e logo Benjamim.
FR. SIMÃO – Deus seja nesta casa!
JOANA – Amém. Tenho ordem de fazer cumprir o que vossa reverendíssima ordenar.
FR. SIMÃO – Venho simplesmente a fim de levar para o convento...
JOANA – Perdão, reverendíssimo... (Para o fundo) Tranquem o portão do jardim! (Um escravo tranca) quer então levar.. . (A Fr. Simão).
FR. SIMÃO – Para o convento o nosso sacristão de Macacu, que se acha aqui disfarçado em mulher.
BENJAMIM (Ao bastidor) – Ei-los!... por este lado além do muro quatro cães de fila no quintal vizinho! mas eu escapo aos frades... (Arregaça o vestido e corre para o portão que acha trancado).
JOANA (Mostrando) – Ei-lo!... tome conta dele!...
BENJAMIM (Depois de esforço inútil para abrir o portão) – Libertas. decus et anima nostra in dubio sunt ou ni dubo ....... (Desanimado).
FR. SIMÃO – Meu filho!
BENJAMIM – Benedicite, padre mestre! mas eu não vou para o convento... quero ser soldado.
FR. SIMÃO – Tu nos pertences: és nosso sacristão, e queremos defender-te.
BENJAMIM – Muito obrigado, mas eu não quero mais ser sacristão, e ainda menos frade.
FR. SIMÃO – Irmãos leigos, segurem-no...
BENJAMIM – Isto é violência (Resistindo) não quero ir para o convento!... (Debate-se) olhem que eu esqueço o respeito que tenho ao... ah! ah! (Subjugado) São dois hércules!... pois se os frades comem tanto!...
FR. SIMÃO – Ele traz calções; podem tirar-lhe o vestido (Os leigos tiram).
BENJAMIM – Padre mestre isto não é decente à vista das senhoras (Fica em camisa curta de mulher e de calções).
FR. SIMÃO – Agora o hábito de leigo (Os leigos põe-lhe o hábito).
BENJAMIM – Memento homo, quia pulvis est et in pulverem revertens.
FR. SIMÃO – Fiquem as senhoras na paz do senhor. Vamos, meu filho.
JOANA – Deviam ter vindo uma hora antes!...
BENJAMIM (Levado) – Mas eu não quero mais ser sacristão, não quero ser leigo, nem frade, nem guardião, nem provincial (Vão-se).
JOANA – Brites!... e Inês? (Abraçam-se, chorando).
FIM DO SEGUNDO ATO