Apezar de isento de qualquer responsabilidade criminal de ordem politica ou social, fui conservado preso durante cem longos dias na fortaleza de Willegaignon e posteriormente na de S. João nem mesmo do meu humilde nome fazem menção os inqueritos effectuados pelas autoridades do Sr. Marechal Floriano Peixoto, sobre os acontecimentos de 10 de Abril ultimo.
Obedecendo ao justo e legitimo sentimento da liberdade, retirei-me hoje da fortaleza de S. João, cansado todavia pela indecorosa protelação da approvação do projecto de amnistia: esquecimento da falta criminosa de que jamais fui denunciado, e nem de leve á mim attribuida.
Á desastrosa orientação politica da maioria da Camara, em que as necessidades reaes e imaginarias para a conservação do poder derrocarão os principios da justiça, e ao individualismo que impera nos actos de opposição, devem os meus infelizes concidadãos desterrados nos confins da republica e os detidos nas fortalezas o prolongamento dos seus soffrimentos physicos e moraes.
Antes de tomar tão extrema resolução obedeci aos deveres da lealdade para com os meus illustres companheiros de prisão; talvez que sejão altamente ponderosas as razões que elles apresentarão, para que, pacientes, se decidissem a esperar pela amnistia.
Quanto a mim, preferi correr os riscos de uma nova captura, o que seria mais uma violencia, absolutamente inutil á causa do Governo.
Que a Providencia zele sobre os destinos da nossa cara Patria, que ella inspire aos membros do Congresso Nacional sentimentos generosos e justos que permittão a congregação dos bons e verdadeiros cidadãos, inaugurando-se assim a epocha de paz, de liberdade e de justiça da joven Republica.
São estes os votos do fugitivo.
Dr. Francisco Antonio de Almeida
Capital Federal, 19 de Julho de 1892.