Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil/II
P, m, mb, muitas vezes se usam uma por outra, desta maneira, que as dições in principio tomadas absolute se pronunciam com m vel mb, ut mó vel mbó, manus. Precedente o genitivo, ou adjetivo muda-se em P ut Pedro pó, Petri manus, Xépò, mea manus. Excipe, mbaê, que nunca se muda, ut xémbaê, mea res, Pedro mbaê, Petri res.
Da mesma maneira o P in medio dictionis, fica em mb posto absolute in principio, ut Abâ, acabo-me, Mbába, acabamento, pro Paba, etc.
Conforme a isto nunca se pronuncia B in principio dictionis sem m e posto que por incúria se escrevesse sem m sempre se lhe há de prepor, ut pro Baê diz-se Mbaê porque precedente o genitivo, ou adjetivo não lhe é sofrível pronunciar-se sem m ut xébaê, senão xembaê: ou se há de pronunciar m somentes, ut maê, mobĩ vel mbobĩ, morú vel mború, etc.
No meio da dição também se põem b post m e é mais comum pronunciação como nos verbais Timára, Timàba, Timbára, Timbába.
Nos verbos compostos com e in fine, ut Acêm, Acemê, Acembê.
Em nomes compostos, nos quais se tira a última vogal do primeiro, ut nhauúma, barro, oca, casa, nhauúmóca, nhauúmbóca, casa de barro.
Nos pretéritos.
editarTetama, Tetamboéra, pro Tetamoéra, etc.
D in principio dictionis nunca se pronuncia sem n atrás, ou n somente tirado o d ut ndé vel né', tu, naçói vel ndaçói, não vou, e não yxé daçói.
No meio da dição mete-se d post n e é mais comum pronunciação ut.
Nos verbais, pinàra, pindàra, pindába.
Nos Pretéritos, ut ména, mendoéra, pro menoéra.
Nos verbos compostos com e in fine, ut Anhân, Ancbanê, Anhandê.
Em nomes compostos pode-se interpor, ut usus docebit, ut Amána, iba, Amánibâ, Amándibâ.
Se o seguinte nome é dos começados por t que se muda em r, o mais comum é por-lhe d, ut mèna, tuba, méndúba.
B, P in medio vel fine dictionis, quase sempre se muda em m u mb quando precede na última sílaba til ou m ou n, ainda que esteja o n no fim da penúltima, ut Anga.
Nos gerúndios e supinos, ut Ainupã, Nupãmo, Airumô, Yrumómo, Amanô, Manómo. Todos estes pela regra geral houveram de dizer bo.
Nos verbais ou particípios, ut ynupãbíra, yrumombíra, ymomanombíra. Todos houveram de dizer pela regra geral píra.
Nos verbais que perdem o ç, ut nupãçâba, nupãma, tecotebẽçâba, tecotebema, apiticâba, apitĩàma, çaró çaba, çarõ áma, mopaũ çaba, mopaũ àma, ma pro ba.
Nos pretéritos, ut tĩ, timboèra, teõ, teomboéra, nhũ, nhumboéra.
Com preposição Pé, ut Tĩ, Timè, Amâ, Amâme, paranâ, paranâmè, ánga, ángimè, mána, mánime, mé pro pè.
Nos compostos, ut paranâ, pôra, paranambóra, composto, omanó, morrem, pà, todos: omanômbâ, morrem todos, pro pâ, et sic de reliquis.
Nos feitos ativos com mo, ut apâb, aimombâb, pro aimopâb.
R muda-se em n onde preceder til, m ou n, in ultima syllaba, ut in futuro conjunctivi, nupã, nupâneme, pro nupãreme, irumô, irumôneme, et sic de cæteris ut suprā.
Nos particípios em çára no presente quando perdem o ç, ut çarõçára, çarõána, irumoçâra, irumoána, etc.
No futuro podem ter r ou n, ut çarõanáma, çarõaráma, etc.
Nos formados em amo, ou no futuro, ut tĩ, tĩnamo, tĩnáma, pro tĩramo, tĩráma.
Nos futuros dos verbais que têm mi, ut minupã, minupãnáma vel ráma, estes o uso os ensina: por que também algumas vezes o r serve por n, ut ibârèma, çapôréma pro nema.
E nos verbos compostos, ro e no são o mesmo, ut Açêm, simples, Anoçêm vel Aroçêm, compostos.
C com zeura, onde não se muda em r item x, comunica-se muitas vezes com o nd precedente, m in ultima syllaba, o qual se faz comumente nos verbos neutros feitos ativos com mo, ut açô, amondô, oçôc, omondôc, pro omoçôc.
Se o verbo é repetido não se muda mais que o imediato ao mo, ut oço çôc, omondo çôc x ut mixuú, minduú.
C sem zeura, ou que qui, que é o mesmo, comumente se muda em ng precedendo m, n ou til, como nesta composição dos verbos neutros cõ, mo, ut aicô, aimoingô, aquêr, amonguêr, quiâ, aimonguiâ
Item noutras dições compostas, ut Aîn, catú, composto aingatú, airumô, airumongatú, amanô, amanóngatû, ainupã, ainupãgatú, etc.
T comumente se muda em d precedendo til como nos verbais em ára, ába, ut Cenoĩ, Cenoĩdara, cenoidaba, pro tára, tába.
E nos compostos com mo, ut atúi, amondúi, vel amotúi.
Em todas estas regras pode haver alguma exceções que se aprenderão com o uso, maxime nesta última de t com nd em que é rara a mudança.
Nha, ya, et sic in aliis quattuor vocalibus se usam um por outro, ut nhandê, yandê.
Salvo quando se encontram com outros vocábulos qure têm diversa significação, ut nhũ, campo, jù, espinho, posto que estes melhor se escrevem com j jota ut jú, jára etc.
Oa, oe sempre são monossílabos, ou contratos se são simples precedente consoante, ut coára, poéra dissílabos. Nos pretéritos também se escreve ue como oe composto, ut ocuéra timbuéra etc.
Excipe coéma, moéma que são trissílabos, et si quæ sunt alia.
O, quando é artigo do verbo, ou recíproco, claro está que faz uma sílaba por si só, ut Aâr, oâr, oâra.
V consoante não se acha conforme a comum, e melhor pronunciação salvo nos que mudam o b em v como os galegos, ut pro abâ, dizendo avâ.
Conforme a isto, uâ, uê são dissílabos, ut apuâm, acuê, trissílabos.
Excipe os verbos acabados em u, os quais no gerúndio e particípios são contratos, ut amopú, mopuábo, mopuára, mopuába, trissílabos, Aú, vábo, vára, vába, dissílabos.
Nota que nestes acabados em u precedente vogal se interpõem g e melhor pronunciação e mais fácil, ut guábo, guára, guába, aimombeú, mombeguábo, mombeguára, mombeguába.
E assim os que têm gua, não somente nestes gerúndios e verbais, se podem escrever com u ficando sempre contratos, como apud nos Água, e assim se hão de pronunciar. Mas também em todas as mais dições de maneira que ora se escrevam com oa, ora com uâ, sempre são contratos, ut jaguára, vel jagoára, trissylabum.
Alguns que se pronunciam dissílabos é porque se muda o c em ng ut supra, e assim como tendo c são dissílabos, assim também com ng ut micuába, minguába, quadrisyllabum.
Este nome unguá é trissílabo, et si quæ sunt alia.
Ca, co, cu pronunciam-se sem zeura, como no português carne, copo, curo, ut oca, aicô, aicuâb. Aliter hão de ter zeura para que soe ut ça, ço, çu, açaçâb, açô, ayoçúb.
Ce, ci hão de se pronunciar como se tivessem zeura como no português cera, cidra, ut acêm, acĩc.
Excipe os compostos que se hão de pronunciar sem zeura, ut óca, etê, compostos detrata a última vogal de oca, diz ócetê, e por isso comumente se escrevem um tamaninho distintos.
Item na conjugação onde acrescentam e vel i, ut acepiâc, acepiác eme, cepiác i, necepiàc i, pronunciam-se sem zeura.
Os mais hão se de escrever com que, qui: e pronunciar sem fazer caso do u líquido, como no português quedo, quita, vt aquêr, quìba.
Ga, go, gu pronunciam-se como no português gato, gota, gula, vt ànga, àmoingô, amongúb.
Ge, gi, pronunciam-se como no português gesto, gibão, vt augê, agĩb.
Excipe os compostos, e os da conjugação, como se disse nos do ce, ci, que se pronunciam como no português guerra , guitarra , vt àngaetê, àngetê, aimonhàng, monhàngeme, monhangi.
Que pronuncia-se ou monossílabo, sem fazer caso da líquida, ou dissílabo, conforme aos simples de que se compõem, vt aquér, aimonguér, monossílabo, acué, aimongué, dissílabo.
Estes dois simples aimonguetâ, tigué se pronunciam como guerra, et si quæ sunt alia.
Qui se pronuncia exprimindo o u líquido, como em latim pinguis, vt guirà.
Excipe, aimonguĩ, açamonguĩ, que se pronunciam sem o u líquido, como guitarra.
E se alguns outros se pronunciam sem o u líquido é por que são compostos de qui que se muda em ng como se disse acima do c sem zeura, ut quiá, composto aimonguiá.
E se algum é dissílabo, é porque também seu simples ou é ut ocúi', composto oimongúi, ocuî, composto oimonguî.
Conforme a esta ortografia e pronunciação onde quer que se achar i vel ípsilon in principio dictionis ante outro i sempre é vogal que é o relatiuo is, ea, id, de quo infra, e o seguinte i também será vogal se se lhe seguir consoante, ut ijra, e seguindo-se vogal o seguinte i será consoante, ut jára, ijára, e geralmente qualquer vogal que se seguir ao i em qualquer dição sempre é o i vogal sendo relativo, ut,
A. | fruta. | iâ, | eius fructus. |
E. | dicere. | iê, | eius dicere, vel dictio. |
O. | tapar. | iô, | id occludere. |
V. | comedere. | iû, | id comedere. |
Seguindo-se a, o, u não sendo relativo sempre é consoante ut jára, jógua, dissílabos, jú, monossílabo.
Seguindo-se a vogal, melhor precede ípsilon, e pronuncia-se como em castelhano ya, ye, vt yeçóca, etc. Do qual se disse em cima que se vsa às vezes por nh com todas as vogais, e ainda que ya no afirmativo seja consoante, contudo no negativo precedente consoante fica vogal, ut nhamanô, vel yamanô, negativo nyamanói. Mas nisto vai pouco, por que se confunde sœpissime com i jota, e cada um o pronuncia mais português ou castelhano como quer vt ja, ya, etc. e finalmente mais universal pronunciação é a do y que a de nh segundo as letras que se seguem, vt amanô, nhamanô, vel yamanô, açô melhor diz yaçô, etc.
Comumente os nomes começados por i vogal quando se lhe prepõem o relativo metem outro i consoante propter concursum, vt itâ, pedra, i ijtâ, eius lapis, ipî, principium, i ijpî, eius principium.
O mesmo fazem alguns in fine dictionis compondo-se com outro i ut camurî, robalo, ĩg, rio, composto camuriiĩg, rio de robalos.
Este nome jrũ, o mesmo i que tem lhe serve de relativo e nunca o perde, ut jrũ, socius e eius socius, xe irũ, meus, oirũ, etc. O mesmo guarda o verbo airumô, composto dele.
Também alguns verbos se hão de escrever com dois ij, um consoante, outro vogal depois do artigo & não com gi, ut aijquî, aijbõ. Porque tendo o acusativo expresso, ou o recíproco e outras partes, (ut infra latius) perdem o primeiro i ut pirá ibómo, peixe frechando: e se se escrevera com gi houvera de dizer piragibómo.
E tendo o relativo, ainda que pela regra, houvera de perder o i primeiro, contudo o retém propter concursum, vt i ijbómo, eum sagittando.
I vogal, que em muitos vocábulos se pronuncia áspero com a garganta, bem se lhe põe escrever g in fine acabando-se a dição no mesmo i porque compondo-se com outra dição começada em vogal exprimitur g ut j, Rio, atã, direito, composto diz jgatã, Rio direito.
In medio dictionis não se sofre, porque quem não sabe, a língua pronuncia muda com líquida, vt imondopira, dirá imondopígra.
E encontrando-se com qualquer consoante no meio ou no fim, fará hum concurso muito áspero de consoantes, ut tigba, agîgb, etc. E nem com isso o há de saber pronunciar de qualquer modo que se escreva se não for ouvindo-o viva voce.
Por isso pera conhecer ser este i áspero se escreve com um ponto em baixo e ficará jota subscrito i porque faz muito diferente significação do, i lene, ut j água, com i áspero, j îs, ea, id, com i lene, ayopĩ, tanger trombeta ou flauta, ayopĩ, picar uma vespa. Ou se há de deixar ao uso porque alguns muito bons línguas, ou não podem pronunciar: mas ex adiunctis, se entende o que quer dizer.
Ia, com i áspero, comumente é dissílabo, ut piá, fígado, abiàr.
Excipe apiába, capiába, trissílabos, ibiá, dissílabo, e si quæ sunt alia.
Item todos os gerúndios e verbais em âra, âba, ut ayábĩ, eu erro, gerundio abiábo, verbais abiára, abiába, trissílabos.
Ia, com i lene comumente ée contrato, e monossílabo, ut arobiár, trissílabo.
Alguns nomes se tiram, que o uso ensinará, ut piâ, filho, potiá, jundiâ, tapiá, çupiá, piũ, yatiũ, et si quæ sunt alia.