Artigo de Euclides da Cunha de 20 de outubro de 1897

Do nosso correspondente na Bahia recebemos o seguinte telegrama:

BAHIA, 25.

Realisaram-se ontem as festas promovidas pela imprensa ao general Arthur Oscar e à polícia dos Estados.

A partida dos batalhões de polícia do Pará, Amazonas e São Paulo, por ordem do ministro da guerra, tirou-lhes um certo brilho.

Apezar disso foram solenes.

Foi rezada uma missa campal num altar armado no monumento Dois de Julho.

Celebrou— o sr. conego Curio, acolitado por seminaristas.

Assistiram todas as autoridades superiores do Estado, o general Arthur Oscar, colégios e associações diversas.

Após a missa orou o jornalista Aloysio Carvalho, entregando ao general Arthur Oscar um cartão de ouro com brilhantes e a inscrição seguinte: Ao exército vencedor em Canudos, simbolisado no general Arthur Oscar, saúda a Bahia.

Cinco de outubro de 1897.

Em nome da imprensa também foi oferecido um pergaminho dourado, com um artigo especial, ao comandante do 5 corpo de polícia.

Falaram diversos oradores.

Formou depois o préstito para ir colocar na faculdade de medicina uma pedra de mármore com a inscrição: A Bahia eternisa neste mármore o seu agradecimento aos médicos, farmaceuticos e acadêmicos que exerceram o seu apostolado durante a dolorosa quadra de Canudos em 1897.

Oraram na Faculdade os doutores Anisio Circundes, Pacifico e acadêmicos, no meio de vivas aclamações.

A imprensa foi buscar o levar em carro o general Arthur Oscar.

À noite houve espectáculos de gala, gratuitos.

A concorrência foi enorme.

Chegaram hoje, inesperadamente, alguns acadêmicos que estavam em Canudos.

Foram recebidos por seus companheiros e por parte da congregação.

No sábado efetua-se uma recepção pomposa, por parte da congregação.

A sociedade Euterpe faz esta noite uma manifestação em carros, ao general Arthur Oscar e amanhã oferecer-lhe-á uma chícara de chá.

O Paíz de ontem pública extenso serviço telegráficos no qual vem minuciosamente descrita a imponente recepção feita pelo povo da Bahia aos generais Arthur Oscar e João Barbosa e aos seus companheiros de luta, e trás outras notícias interessantes.

Desses telegramas extratamos os seguintes:

Eis a última proclamação ao exército em Canudos:

Quartel general do comando em chefe do acampamento em Canudos. 6 de outubro de 1897 — Ordem do dia nº.145.

Viva a República dos Estados Unidos do Brasil! Está terminada a campanha de Canudos! Desde ontem que os batalhões das forças expedicionárias passeiam suas bandeiras sobre as ruínas da cidadela, com a consciência de bem haverem cumprido o seu dever.

Durante 103 dias, desde o Aracaty, vos conservastes em rigorosa linha de fogo, batendo-vos em Cocorobó, Trabuhú, Macacihyra,, Angico, Umburanas, Favella e Canudos, onde repelistes três assaltos, sustentastes oito combates e vos batestes nos pontos avançados, dia por dia, hora por hora, sem nunca serdes modelos desses mesmos postos, sem mostrardes fraqueza nem cansaço, fuzilando e sendo fuzilados, a 25 metros do inimigo, a meia ração, sem mudardes roupa, valentes soldados

Tive o orgulho de comandar-vos. A República vos enche de bençãos. Nunca viu-se uma campanha como esta, em que ambas as partes sustentavam ferozmente suas aspirações opostas. Vencidos os inimigos, vós lhes ordenáveis que levantassem um viva à República e eles o levantavam à monarquia e em ato contínuo atiravam-as às fogueiras que incendiaram a cidade, convencidos do que tinham cumprido o seu dever de fiéis defensores da monarquia.

É que ambos, vós e eles, sois brasileiros: ambos extremados nos ideais política. Valentes oficiaes e soldados! A Pátria está tranquila sob a guarda de vós outros, que sois a sentinela avançada da República, Viva a República dos Estados Unidos do Brasil! Vivam as forças expedicionárias no interior deste estado! Arthur Oscar de Andrade Guimarães, general de brigada, comandante em chefe,.

A festa da imprensa esteve imponente. Sol ardente. Às 9 horas chegam ao parque do Campo Grande o governador e o general Roberto Ferreira. Já lá se achavam inúmeras senhoras , as principais autoridades estaduais e federais, chefes de repartições, officialidades da policia e da guarda nacional e corpo de saúde.

Foram chegando depois os secretários de estado e o mundo official.

As ruas do parque, cheias. entra a guarda de honra do 5º corpo de polícia, sob o comando do coronel Salvador, toma o lado esquerdo do monumento, em frente ao qual foi erguido um altar com grande cruz, tendo ao fundo um troféu formado das bandeiras nacional, da Bahia e do Pará.

Todo o altar é circulado de jarras com flores e palmeiras, formando um conjunto de magnífico efeito.

Às 10 horas e 15 minutos chegam os carros da imprensa, a qual havia ido receber o general Arthur Oscar, na casa em que se achava hospedado. Tocaram as músicas todas à sua entrada no parque, dirigindo-se para o barração ao lado direito, onde estão as principais autoridades.

Em frente ao monumento formavam alunos de colégios, entre eles o de S. Salvador e o de S. José.

O conego Curio, que veio do Rio expressamente para abraçar seu irmão, o dr Curio, é o celebrante, acolitado por 12 seminaristas. Quando levanta a hóstia, todas as músicas executam o hino nacional.

Finda a cerimônia, o general Arthur Oscar é cumprimentado pelo mundo oficial.

O grande parque está todo embandeirado com galhardetes verdes e amarelos assim como o pavilhão.

Estabelecido o silêncio, Aloysio de Carvalho, redator proprietário do Jornal de Notícias em nome da imprensa da Bahia, profere brilhantíssimo discurso, sempre interrompido por palmas, finalisando por vivas à República e entregando ao general Arthur Oscar um cartão de ouro com os seguintes dizeres: Ao exército nacional, vencedor em Canudos, simbolisado na pessoa do general Arthur Oscar, saudações da Bahia. Em um lado do cartão estão as armas da Bahia, tendo no centro uma estrela com um brilhante, no canto três pequenos brilhantes e a data 5 de outubro de 1897.

Foram pronunciados mais: patriótica poesia pelo poeta Senna; enthusiastico discurso pelo acadêmico Jorge de Souza, que acabou levantando vivas à Republica; de Oscar Floriano, outro acadêmico, também aplaudido.

Foi organisado, depois de vivas levantados pelo general Arthur Oscar, o préstito no qual tomaram parte o heróico general, o Club Caixeiral com estandarte e bandeira nacional, os colégios referidos, o 5º corpo de policia, o mundo oficial em carros, a imprensa, inclusive O País, e os bombeiros municipais condusindo em padiola verde e amarela uma pedra mármore com estes dizeres: A Bahia e neste mármore o seu agradecimento aos médicos, farmaceuticos e acadêmicos que exerceram o seu apostolado durante a dolorosa quadra de Canudos-1897.

O préstito seguiu com destino a Faculdade de Medicina, estando todas as ruas caprichosamente ornadas.

Profusão de confeti foi jogada sobre o préstito, sendo muito saudados o general Arthur Oscar e a imprensa.

Ao meio-dia chegamos à Faculdade, sendo recebidos no saguão do edificio pela congregação e alunos, que ali nos aguardavam, formando alas e tendo mandado uma comissão assistir à missa campal.

A subida ao salão nobre foi feita debaixo de delirantes saudações. Os logares de honra foram ocupados pela imprensa, pela congregação, pelo general Arthur Oscar, pelo governador, demais autoridades e senhoras.

O salão estava repleto de acadêmicos, representantes do club Caixeiral e pessoas de todas as classes.

Aloysio de Carvalho, em poucas significativas e brilhantes palavras, manifestou o fim que a pedra simbolisava.

O lente dr. Anisio Circunder, ilustrado redator do Diário da Bahia, proferiu um discurso, cujo final foi coberto de prolongadas palmas.

O acadêmico Vieira Lima, em nome dos colegas, pronunciou também expressivo discurso.

Presidia a sessão o diretor dr. Pacifico Pereira.

Colocada a pedra na parede, ao lado direito do salão, com esse ato terminou a festa, assistida por alguns milhares de pessoas, reinando sempre entusiasmo e ordem.

Hoje, à noite, espectáculo de gala oferecido gratuitamente pelo governo, em homenagem ao general Arthur Oscar. A primeira parte é — hino nacional e uma apoteose da República; a segunda , sinfonia do Salvator Rosa, a terceira La Gioconda, pela Companhia Sansone.

— Sensato e brilhante artigo, dizem que escrito pelo literato Xavier Marques, e assignado com os nomes de todos os jornais desta capital, impresso em pergaminho, foi entregue ao general Arthur Oscar e ao coronel Salvador, presentes, e será também entregue aos demais generais e comandantes dos corpos que tomaram parte na campanha de canudos.

O Diário da Bahia e o Bahia deram hoje edições especiais. O Diário de Noticias, ontem e hoje, distribuiu o retrato do general Arthur Oscar pelo povo.

Depois de amanhã, a velha sociedade Euterpe irá cumprimentar Arthur Oscar, à noite. Programa: Filarmônica montada, carro com o estandarte da sociedade; uma moça conduzindo rica coroa; carros da imprensa; associados.

No regresso passarão pelo residência do ilustre general, em marche aux flambeaux.

Ontem e hoje foram distribuídos com profusão cartões com os dizeres: Salve, soldado ilustre! Viva o general Arthur Oscar, etc.