Personagens: LUÍSA e EULÁLIA

(Ao sair a terceira doente, Luísa toca o tímpano que está em cima da mesa.)

EULÁLIA (Entrando.) — A senhora quer alguma coisa?

LUÍSA — Diz ao Antônio que vá chamar-me um tílburi.

EULÁLIA — Vai sair?

LUÍSA — Vou.

EULÁLIA (Vai saindo e volta.) Ah! é verdade. Recebi pelo telefone um chamado para a senhora.

LUÍSA — De quem?

EULÁLIA — Do Senhor Salazar, da Rua do Hospício.

LUÍSA — É uma casa onde meu marido está tratando. Ouviste bem: é para mim ou para ele?

EULÁLIA — Para a Doutora Luísa Pereira, ouvi bem claro. E a mãe da menina que estava aqui ouviu também: Doutora Luísa Pereira. Mas isto é fácil de verificar, senhora, temos ali o tele­fone...sim, porque eu não quero que venha o patrão depois cá dizer-me como aconteceu outro dia...

LUÍSA — Está bom, vai chamar o tílburi.

EULÁLIA — Não senhora, é que as injustiças doem muito e não há neste mundo nada mais triste que pagar o justo pelo pecador...

LUÍSA — Sim, sim... Mas vai chamar o tílburi.

EULÁLIA — Eu nunca fui apanhada em mentiras. Graças a Deus tenho a minha consciência muito pura e a filha de Manuel Tibúrcio, que Deus haja, não é pra aí qualquer mulher à toa de cuja palavra se possa duvidar.

LUÍSA — Se não queres ir dar o recado, vou eu.

EULÁLIA — Vou, sim senhora, mas...

LUÍSA — Está bom, está bom! (Empurrando-a para dentro.)