Personagens: MARIA PRAXEDES e DOUTOR MARTINS

MARIA — Acabo de certificar-me pelas suas últimas palavras, Doutor, que procedeu como um verdadeiro amigo! Nem era de esperar outra coisa de sua inteligência e sobretudo do caráter nobre e elevado.

MARTINS — O fato que me foi comunicado, minha senhora, encheu-me das mais tristes apreensões.

MARIA — Não há então possibilidade de uma reconciliação, Doutor?

MARTINS — Se as rixas fossem da natureza daquelas que se dão naturalmente entre marido e mulher; se se tratasse de um desses temporais originados pelo ciúme e que se desfazem aos primeiros beijos em aguaceiros de lágrimas, compreendo que a felicidade pudesse raiar hoje mesmo debaixo deste teto, mas o que foi exposto por sua filha...

MARIA — São rixas ocasionadas por choques de vaidade e interesses, bem o sei, Doutor!

MARTINS — E nestas rixas, minha senhora, não encontrei a mulher. Vi apenas uma criatura híbrida, que não é por certo a companheira do homem.

MARIA — Tem razão, Doutor!

MARTINS — E no entanto, eu, que assim penso e que assim falo, amo nas mesmas condições.

MARIA — A Bacharela Carlota de Aguiar! Já o tinha desconfiado!

MARTINS — Aquele demoninho pernóstico com os seus ares enfatuados de homem, mas em que a mulher transparece cheia de encantos, tem-me transtornado por tal forma a cabeça que, con­fesso, ainda mesmo vendo as barbas do vizinho a arder, não me sinto com forças de pôr as minhas de molho.

MARIA — Está então como vulgarmente se diz, chumbado?

MARTINS — Chumbadíssimo. Amarrou-me para sempre, não há dúvida, aconteça o que acontecer.