Personagens: MARIA e EULÁLIA

EULÁLIA — A senhora ainda de chapéu! (Tira-lho.) A me­nina lá está a dar consultas, coitadinha! Olhe que é forte! Benza-a Deus! (Tocam a campainha.) Estão batendo.

EULÁLIA — Há de ser algum doente. Vou dizer-lhe que a me­nina não está em casa. Isto assim não pode continuar. A coitadita passou a noite no sofá do consultório a dar de vez em quando suspiros, muito ansiada... (Tocam.) Espere lá, não tenha pressa. Olhe, senhora, eu não devo meter-me nestas coisas, porque quem se mete nos negócios alheios sai sempre mal. O defunto meu pai, que Deus haja, costumava dizer: cada um deve tratar da sua vida, que já não faz tão pouco. Mas, se numa comparação, eu fosse casada com um homem que me estimasse como o patrão estima a patroa, não estava cá a brigar todos os dias por causa desta cambada de doentes. (Tocam.) Espere lá, tem muita pressa? A senhora não acha que...

MARIA — Vai ver quem bate! (Tocam.)

EULÁLIA — Lá vou, lá vou!... (Sai.)

MARIA (Suspirando.) — Ai! Ai! (Segura o chapéu que Eulália pôs sobre a mesa e sai.)