Personagens: OS MESMOS, MARTINS, CARLOTA e a ama
(Com uma criança.)
MARTINS (Apertando a mão de Pereira.) — Já vês que cumprimos a nossa palavra!
DR. PEREIRA — E que eu os recebo como amigos antigos, sem a menor cerimônia nesta sala onde Luísa passa os dias a namorar o seu bebê.
CARLOTA — Quero vê-lo! Quero vê-lo! (Luísa leva-a ao berço.)
LUÍSA — Está acordado, felizmente. (Tira-o do berço e entrega-o a Carlota.)
CARLOTA (Com a criança ao colo.) — É um querubim rafaelesco! Como está gordo e anafado! Dir-se-ia uma rósea aurora de maio!
DR. PEREIRA — Gosta muito de crianças?
CARLOTA — Adoro-as! (Mostra a Martins.) Olha, meu Lacinho.
PRAXEDES — Seu Lacinho?
MARTINS — É o poético diminutivo por que sou hoje conhecido em casa.
LUÍSA — Deixe-me ver agora a sua. Já sei que é uma menina.
CARLOTA — É verdade.
LUÍSA (Tirando a criança do colo da ama.) — Oh! É muito bonitinha!
MARTINS — Sai ao pai!
CARLOTA — Tem paciência, meu Lacinho, mas todos dizem que ela é sem tirar nem pôr a minha efígie.
LUÍSA (Mostrando a Pereira.) — Olha!
DR. PEREIRA — E muito galante!...
LUÍSA (A Carlota.) — E a senhora que a está amamentando?
CARLOTA — Sim, e a senhora também cria o seu?
LUÍSA — Também!
CARLOTA — Coitadinha! A minha veio chorando tanto no bonde. Creio que tem fome. Se me permitisse...
LUÍSA — Que lhe dê de mamar? Pois não! Vou fazer o mesmo ao meu. (Trocam as crianças: Luísa senta-se de um lado e dá de mamar ao filho; Carlota faz o mesmo do outro lado.)
PRAXEDES (A Carlota.) — Então o foro, a candidatura, a Deputação Geral pela corte, os projetos grandiosos da reforma da nossa legislação...
CARLOTA — Chi!... Está toda molhada! (Para a ama.) Vê aí um cueiro. (A ama tira um cueiro que deve trazer dentro de uma cesta e entrega-o a Carlota que vai pô-lo na criança, entregando o molhado à ama.)
MARTINS (A Praxedes.) — Quer resposta mais eloqüente? O senhor pergunta-lhe pelos sonhos de ontem, ela responde-lhe com o cueiro da sua Luisinha.
PRAXEDES — Afinal tudo isto acabou em cueiros!