O crime espantosamente horrível não ficou impune. A lei vingou as vítimas.
O Barbudo, Eufêmia e outros cúmplices acham-se na casa da correção pagando sua malvadeza.
Simeão subiu à forca; estrebuchou e morreu debaixo dos pés do carrasco.
A lei de exceção matou o escravo e deixou com vida o Barbudo tão celerado como ele, ou, se é possível, mais celerado que ele.
Tudo isto é profundamente imoral e perverte a sociedade.
É imoral a sociedade que mata; porque ensina a matar.
É imoral a exceção da lei na regra mortífera contra o escravo; porque e uma iniqüidade de mais imposta embora pela necessidade de aterrar os escravos, necessidade que manifesta as aberrações de todas as noções do direito e da justiça, a que a existência da escravidão obriga a sociedade, a quem castiga, e de quem se vinga, corrompendo-a.
É imoral, e deforme; porque é imoral e deforme toda a sociedade, toda a nação, todo o império que conserva e mantém em seu seio a escravidão.
Concluamos.
Simeão foi o mais ingrato e perverso dos homens.
Pois eu vos digo que Simeão, se não fosse escravo, poderia não ter sido nem ingrato, nem perverso.
Há por certo alguns homens livres que são perversos; exemplo: o Barbudo.
Essa perversidade é porém uma exceção no homem livre.
Entre os escravos a ingratidão e a perversidade fazem a regra; e o que não é ingrato nem perverso entra apenas na exceção.
Porquanto, e todos o sabem, a liberdade moraliza, nobilita, e é capaz de fazer virtuoso o homem.
E a escravidão degrada, deprava, e torna o homem capaz dos mais medonhos crimes.
A lei matou Simeão na forca.
A escravidão multiplica os Simeão nas casas e fazendas onde há escravos.
Este Simeão vos horroriza?...
Pois eu vos juro que a forca não o matou de uma vez; ele existe e existirá enquanto existir a escravidão no Brasil.
Se quereis matar Simeão, acabar com Simeão, matai a mãe do crime, acabai com a escravidão.
A forca que matou Simeão é impotente, e inutilmente imoral.
Há só uma forca que vos pode livrar dos escravos ingratos e perversos, dos inimigos que vos cercam em vossas casas.
É a forca santa do carrasco anjo: é a civilização armando a lei que enforque para sempre a escravidão.