Cada flôr tem de certo varia sorte,
Tem diverso condão:
Ha flores para a vida e para a morte,
Que dizem sim, ou não.
Ha flores para as maguas da anciedade,
Para os sonhos de amor,
Ha flores para as scismas da saudade,
Ha tambem para a dor.
Ha flores que só vingam no chão frio
Da fria sepultura,
Borrifadas das lagrimas a fio
Que chora a desventura.
Ha flores que só crescem no retiro
De amiga solidão ;
Uma flor diz um ai, outra um suspiro,
Todas têm seu condão.
Esta vai perfurmar as lindas jarras
Dos altares radiantes ;
Aquella ser de amor propicias arrhas
No peito dos amantes.
Alli—campeia altiva uma fronte
Do bravo que venceu;
Acolá—sobre a face bella, insonte,
Da virgem que morreu.
Além—sobre os degráos do capitolio,
Nos penetraes da gloria ;
Aquem—cobrindo o desditoso espolio,
De um genio, e a sua historia !
Cada flor tem de certo varia sorte,
Tem diverso condão:
Ha flores para a vida e para a morte,
Que dizem sim, ou não.
Mas de todas as flores mais felizes,
As que têm melhor sina,
Não são as rosas, nem jasmins, nem lizes,
Nem d’halias, nem bonina.
As flores de laranja mais ditosas
Que as outras flores são :
Tem mais poesia, tem ! São mais cheirosas,
Tem mais inspiração !
As flores de laranja se entrelaçam,
Na virginal capella !
De perfume suavissimo repassam
O seio da donzella !
Das essencias de amor sublime extracto
Sublime é o condão seu :
Fel-as Deus para honrar o doce pacto
Do sagrado hymeneu.
Por isso eu amo a flor de laranjeira
Da donzella na coma,
Ou então quando a brisa passageira
Me traz seu doce aroma.
Amo a flor de laranja, quando a avisto
N’um seio de mulher !
Quando a noite me toma de inprevisto,
Ou d’alva o rosicler.
Amo-a, quando a donzella meiga a esfolha
Em pura distração,
Ou com o pranto dos olhos seus a molha,
Abrindo o coração.
No teu album, portanto, eu quiz as flores
De laranja depor :
Synthese bella de ideaes amores,
Dos amores a flor.
E a tua mão, formosa Therezinha,
Que mil graças esbanja,
Aceite a triste, a pobre offerta minha
De flores de laranja.