LXI. A CAPITAL FEDERAL
Foram três dias de passeio e contentamento, que Carlos e Alfredo passaram no Rio de Janeiro, em companhia dos filhos do deputado. Os quatro rapazes não ficavam em casa senão para almoçar, jantar e dormir: todo o resto do tempo era empregado em percorrer a cidade, visitando os seus pontos mais interessantes, vendo todas as suas curiosidades. Todas, não; porque, como explicava Rodolfo aos seus pequenos amigos, nem dois meses bastariam para isso...
— O Rio de Janeiro — dizia ele — é uma cidade imensa; ou melhor: é uma reunião de várias cidades... Imaginem que a área povoada é de quase quinhentas léguas quadradas!
— Então é a cidade maior do mundo! — exclamou Alfredo, com entusiasmo.
— Não! Não! — emendou Rodolfo, sorrindo — longe disso! Mas é uma das maiores. Em todo o caso, é a maior da América do Sul.
Foram ao Jardim Botânico, ao Corcovado, visitaram todos os parques, passearam pela Tijuco, e não esqueceram a visita ao Museu Nacional, onde Alfredo ficou pasmado diante do “Bendego”, achando quase impossível que uma tão grande massa metálica tivesse podido cair do céu. No Jardim Botânico, o que mais os entusiasmou foi a admirável alameda de palmeiras. E mais entusiasmados ficaram ainda, quando souberam que todas aquelas palmeiras provinham da que foi plantada por D. João VI... Foram visitar essa árvore veneranda, e olharam-na com verdadeiro respeito, vendo-a bem tratada, cercada de um pequena grade de ferro, e conservada como um relíquia.
Indo para o Jardim Botânico, e de lá voltando, extasiaram-se com o espetáculo da Avenida Beiramar, toda arborizada.
Tudo era novidade para eles, que, no entanto, no Rio de Janeiro tinham nascido e vivido os primeiros tempos; mas havia oito anos que o pai se mudara para o Recife; Carlos ainda guardava algumas lembranças, não da cidade propriamente, mas da casa onde nascera, uma grande chácara onde brincara, um horizonte de montanhas ao fundo... Nem sabia, porém, onde ficava a casa.
Para apresentar-lhes o Rio de Janeiro, num só panorama, o pai de Jorge levou-os ao alto do morro do Castelo; aí, evocaram o remotíssimo tempo em que Mem de Sá, em 1567, fundou a cidade, nessa mesma colina assentando as primeiras muralhas, os primeiros fossos de defesa e as primeiras habitações; ao seu espírito, acudiram, recordados em rápida síntese, todos os episódios da história urbana, todos os lentos progressos da sua existência; e, deslumbrados, viram e admiraram a atual grandeza da metrópole, toda a sua vida e animação: a fumarada que subia das chaminés das fábricas, a multidão a formigar nas ruas e nas praças, os bondes, as carruagens, os automóveis...
E, olhando as águas calmas de Guanabara, a cercar a cidade, desde a costa de Benfica até o recanto da Gávea, compreenderam que razão tinham os indígenas, em chamar a baía de: Guanabara, que quer dizer — água escondida... escondida na grandeza das montanhas que as fecham por toda parte.