XXXIX. A EXPEDIÇÃO

Juvêncio jantou, e foi confiado a Venâncio, — o mais velho dos homens que o tinham trazido à fazenda.

Montaram, e dispuseram-se a partir, ouvindo as últimas recomendações do coronel:

— Sigam sempre pela mesma estrada, por onde vieram com esse pequeno, até a encruzilhada, e tomem depois a estrada do Angico. Daí por diante, o pequeno há de indicar-lhes o caminho, até o rancho. Mas tomem cuidado com ele: não o percam de vista!

Partiram. Às quatro horas e meia, chegaram à encruzilhada. Juvêncio ia à garupa do cavalo que o Venâncio montava.

Tomaram a estrada do Angico. Quando Juvêncio viu que tinham chegado perto do lugar que indicara, no ponto em que começava a avistar os dous morros pelados, disse a Venâncio que era bom suspender a marcha.

Pararam todos. Eram quase seis horas da tarde, mas ainda havia muita luz. Afastaram-se um pouco do caminho, e abrigaram-se por trás de um grupo de árvores, um pouco antes do mato grande. Ficaram aí até quase as sete horas. Ainda não era bem noite fechada, e o céu estava limpo, mostrando já duas ou três estrelas, que apenas luziam; a lua só devia sair lá para as oito e meia.

— Podemos seguir! — disse Juvêncio.

Tocaram os animais, tomaram o caminho; agora, Juvêncio seguia a pé, e marchava, fingindo uma grande atenção, afiando o olhar para um e outro lado. Ficaram todos silenciosos, e, aproximando-se do mato fechado, disse Juvêncio, ensurdecendo a voz:

— É aqui dentro, um pouco para baixo. Assim que eles chegam aqui (e o rapaz apontava para um trilhozinho que mal se via na luz escassa do crepúsculo), descem dos cavalos, e entram por esta batida, que vai dar numa abertura, junto do ribeirão que passa dentro do mato; atravessam o ribeirão, num passo que fica mesmo aí, e estão no rancho, que é logo ao pé, um pouco para a direita do passo. Os animais ficam amarrados numa aberta maior, que há um pouco para lá do rancho...

Então, começou Venâncio a dar ordens:

— Bem! Chico, você fica aqui fora com os cavalos; o melhor, até, é ir com eles para aquele capãozinho onde estávamos, e esperar-nos lá. Os outros vêm comigo, cada um com a sua garrucha pronta.

Dizendo isto, Venâncio empunhou logo uma pistola que trazia, e enveredou pelo cerrado, guiado por Juvêncio. Na sombra da mata a noite era completa.

— Se pudéssemos acender uma lanterna!... mas é arriscado; podem ver-nos e fazer pontaria na luz — considerou baixinho o comandante da expedição.

— Não é preciso, — ajuntou Juvêncio — sei o caminho: é só tomarmos para baixo, e iremos dar no ribeirão.

E lá seguiram, tateando, mudos e cautelosos. Uns quinze minutos depois, reconheciam os da frente, pela natureza do terreno e pelo murmúrio da água, que estavam à beira do córrego.

— Vamos seguindo o ribeirão para a esquerda, até encontrar a clareira — aconselhou o sertanejo.

Na margem do ribeiro, o chão era quase limpo de folhagens, e os homens caminhavam com maior facilidade. Logo adiante, sentiram o terreno coberto de relva; estavam na clareira.