Aventuras de Alice em Baixo da Terra/Capítulo III

Este texto foi traduzido para a Língua Portuguesa através dos projetos de traduções colaborativas. Ele, todo o trabalho editorial e de diagramação envolvido, encontram-se licenciados sob os termos da GNU Free Documentation License e CC-BY-SA 3.0. É possível ver seu(s) tradutor(es) e colaborador(es) ao clicar na aba Histórico, acima do conteúdo.

“A primeira coisa que tenho de fazer,” disse Alice, enquanto andava pela mata, “é ficar do meu tamanho certo, e a segunda é achar aquele jardim adorável. Acho que é o melhor plano.”

Parecia um plano excelente, sem dúvidas, e bem lindamente arrumado: a única dificuldade era que ela não tinha a menor de ideia de como começar, e enquanto ela estava andando ansiosamente entre as árvores, um pequeno latido acima de sua cabeça a fez olhar para cima numa grande pressa.

Um filhote enorme estava olhando para ela com grandes olhos redondos e esticando uma pata tentando alcançá-la: “Pobrezinho!”, disse Alice num tom persuasivo. Ela tentou assobiar para ele, mas ela estava terrivelmente alarmada e enquanto ela pensou que ele poderia estar com fome, o que o faria devorá-la apesar de tentar convencê-lo do contrário. Mal sabendo o que ela fez, pegou um pedaço de madeira e segurou para o filhote: ele pulou pelo ar com todas as suas patas sem tocar no chão e com um grito de prazer correu pela madeira e fez parecer que se preocupou: então Alice foi para trás de um grande cardo para evitar ser atropelada e, no momento que ela apareceu no outro lado, o filhote fez outro dardo na vara e ficou de ponta cabeça na pressa de pegá-lo. Então Alice, achando que era parecido como brincar com um cavalo de carroça e esperando a todo momento ficar embaixo de suas patas, correu pelo cardo outra vez. Então o filhote começou uma série de curtos encargos contra a vara, correndo um pouco para frente e bastante para trás e latindo com vontade por enquanto até que por fim ele se sentou, ofegante, com sua língua pendurada para fora da boca e seus grandes olhos meio fechados.

Isso pareceu uma boa oportunidade para Alice escapar: ela correu de uma vez e continuou até o latido do filhote enfraquecer na distâncias e até ela se cansar e ficar sem fôlego.

“Mas ainda assim, que filhotinho querido ele era!” ela disse, enquanto encostava num botão de ouro para descansar e se ventilava com o chapéu. “Eu teria gostado de ensinar truques, se—se eu tivesse o tamanho certo! Oh! Quase esqueci que tenho de crescer outra vez! Deixe-me ver; como isso será feito? Imagino que tenho de comer ou beber algo, mas a grande pergunta é: o que?”

A grande pergunta certamente era: o que? Alice olhou por todo seu redor nas flores e folhas de grama, mas não via nada que parecia ser a coisa certa de comer nas circunstâncias. Tinha um grande cogumelo perto, quase do seu tamanho, e quando ela olhou abaixo dele e nos dois lados, achou que deveria olhar acima dele.

Ela ficou na ponta dos pés e olhou na borda do cogumelo. Seus olhos imediatamente viram aqueles de uma grande lagarta azul que estava sentada com seus braços cruzados, quietamente fumando um longo narguilé e falando como se não percebesse nem ela ou ninguém. Por algum tempo eles olharam um para o outro em silêncio: por fim a lagarta tirou o narguilé da sua boca e languidamente se referiu à ela:

“Quem é você?”, disse a lagarta.

Não era uma forma encorajadora de começar a conversas: Alice respondeu bem tímida: “Eu—eu mal sei, Sr, agora—pelo menos eu sei quem era quando acordei de manha, mas acho que já mudei várias vezes desde então.”

“O que você quer dizer com isso?”, disse a lagarta. “Se explique!”

“Sinto que eu não possa me explicar, Sr, pois já não sou eu mesma, como vê.”

“Não vejo”, disse a lagarta.

“Sinto que eu não possa explicar de forma mais clara,” disse Alice, “mas quando você tem de virar numa crisálida, sabe, e depois numa borboleta, acho que deve ser algo um pouco estranho, não acha?”

“Nem um pouco”. Disse a lagarta.

“Tudo o que sei é,” disse a Alice “que seria estranho para mim”.

Você!”, a lagarta disse desdenhosamente. “Quem é você?”

Isso os fez voltar para o começo da conversa: Alice se sentiu um pouco irritada pela lagarta fazer tais observações tão curtas e ela se endireitou falando de forma grave: “Acho que você deveria me falar quem você é, primeiro”.

“Porque?”, disse a lagarta.

Eis outra pergunta difícil: e já que Alice não tinha um resposta pronta e a lagarta parecia estar de mau humor, ela se virou e foi embora.

"Volte!", disse a lagarta. "Tenho algo importante para dizer!"

Isso pareceu promissor: Alice se virou e voltou.

"Controle o seu humor." Disse a lagarta.

"Isso é tudo?" Perguntou Alice, engolindo sua raiva o melhor que podia.

"Não." Disse a lagarta.

Alice achou que poderia esperar, já que não tinha mais nada o que fazer e talvez a lagarta poderia falar alguma coisa útil. Por alguns minutos ele assoprou seu narguilé sem falar, mas por fim descruzou seus braços, tirou o narguilé de sua boca e disse: "Você acha que mudou, não é mesmo?"

"Sim, Sr". Disse Alice: "Não consigo me lembrar das coisas que sabia—até tentei recitar "Como a pequena abelha ocupada" e saiu tudo diferente!"

"Tente recitar: "Você está velho, pai William"." Disse a lagarta.

Alice juntou as suas mãos e começou:

1.

"Você está velho, pai William," disse o jovem,
 "E seu cabelo está muito branco:
E ainda assim você fica de ponta cabeça—
 Você acha que, na sua idade, é algo certo?"

2.

"Em minha juventude," o pai William respondeu para seu filho,
 "Temi que isso talvez machuque o cérebro
Mas agora eu tenho total certeza de que não tenho nada,
 Por que, eu faço isso de novo e de novo."

3.

"Você está velho," disse o jovem, "como mencionei antes,
 E ficou estranhamente gordo:
Ainda assim, você deu uma cambalhota para trás na porta—
 Sabe por qual motivo?"

4.

"Em minha juventude," disse o sábio, enquanto sacudia suas mechas cinzas,
 "Eu mantinha todos os meus membros bem flexíveis,
Com o uso desta pomada, cinco xelins a caixa—
 Deixe-me vender-lhe algumas."

5.

"Você está velho," disse o jovem, "e suas mandíbulas estão muito fracas
 Para qualquer coisa mais dura que um sebo:
Ainda assim, você come todos os gansos, com os ossos e o bico—
 Minha nossa, como você consegue?"

6.

"Em minha juventude," disse o velho, "eu fiz direito
 E argumentei cada caso com minha esposa,
E a força muscular que isso deu à minha mandíbula,
 Durou o resto da minha vida."

7.

"Você está velho,” disse o jovem; “jamais se imaginaria
 Que seu olho já foi bom:
Ainda assim, você balançou uma enguia na ponta do seu nariz—
 O que te deixou tão esperto?"

8.

"Eu já respondi três perguntas, o que já é o bastante,”
 Disse seu pai, “não se dê ares!
Acha que posso ouvir esse tipo de coisa o dia todo?
 Saia, ou vou te chutar pra fora!”

“Não está certo,” disse a lagarta.

“Não está muito certo, temo,” Alice disse de forma tímida, “algumas palavras foram alteradas.”

“Está errado do começo ao fim,” a lagarta falou de forma decidida e houve um silêncio por alguns minutos. A lagarta foi a primeira a falar:

“Qual tamanho você quer ter?”, ele perguntou.

"Oh, não quero nenhum tamanho em específico,” Alice respondeu, “só não gostaria de ficar mudando tanto assim.”

“Você está feliz agora?” Perguntou a lagarta.

“Bem, gostaria de ser um pouco maior, Sir, se não se importar.” Disse Alice, “sete centímetros é um tamanho ruim de se ter.”

“Mas é um tamanho muito bom!”, disse a lagarta de forma irritada, ficando de pé enquanto falava (tinha exatamente sete centímetros de altura).

"Mas não estou acostumada com isso!", falou a pobre Alice num tom pidão e ela pensou que "Gostaria que essas criaturas não se ofendessem tão fácil assim!"

"Você vai se acostumar," disse a lagarta e colocou seu narguilé na boca voltando a fumar.

Dessa vez Alice esperou quieta até ele escolher voltar a falar: em poucos minutos ele tirou o narguilé de sua boca e desceu do cogumelo. Se arrastou pela grama, somente dizendo enquanto andava: “O topo te fará crescer e o caule te fará diminuir.”

“O topo do que? O caule do que?”, pensou Alice.

“Do cogumelo!” Disse a lagarta, como se ela tivesse perguntado em voz alta, e saiu de vista.

Alice ficou por um minuto olhando, pensativa, para o cogumelo para então pegar um pedaço e cuidadosamente quebrá-lo em dois, segurando o caule em uma mão e o topo na outra. “O que o caule faz?”, ela disse e deu uma mordiscada para tentar; no próximo momento ela sentiu um golpe violento em seu queixo: havia batido em seu pé!

Ela estava bem assustada por essa mudança repentina, mas como ela não encolheu ainda mais e não derrubou o topo do cogumelo, ela não desistiu. Mal tinha espaço para abrir a sua boca, com seu queixo pressionando contra seus pés, mas ela conseguiu e mordeu um pouco do topo do cogumelo.

Isso ai! Por fim a minha cabeça está livre!”, Alice disse num tom de felicidade, que mudou para alarme noutro momento ao perceber que seus ombros haviam desaparecido: ela olhou para baixo num tamanho imenso de pescoço, que pareceu subir como o caule de um mar de folhas verdes que estavam bem abaixo dela.

“O que essa coisa verde pode ser?”, disse Alice, “E onde estão meus ombros? E, oh! Minhas pobres mãos! Como não consigo vê-las?” Ela as movia enquanto falava, mas não parecia ocorrer nada além de um movimento das folhas. Então, ela tentou levar sua cabeça até suas mãos e ficou extasiada ao perceber que seu pescoço se dobra facilmente em quase todas as direções, igual uma serpente. Ela havia conseguido se dobrar num lindo zig-zag e estava para mergulhar entre as folhas, que ela descobriu serem o topo das arvores pelas quais vagava, quando um barulho agudo a fez se erguer: uma pomba grande voou contra seu rosto e estava violentamente a batendo com suas asas.

“Serpente!”, gritou a pomba.

“Eu não sou uma serpente!”, disse Alice de forma indignada. “Deixe-me sozinha!”

“Eu tentei tudo!”, a pomba disse de forma desesperada, até um pouco triste: “Nada adianta!”

“Eu não tenho a menor ideia do que você está falando.”, disse Alice.

“Eu tentei as raízes das arvores, os bancos, as bordas,” a pomba continuou sem ligar pra ela, “mas essas serpentes! Não há como agradá-las!”

Alice estava cada vez mais confusa, mas pensou que não adiantaria falar nada até que a pomba houvesse acabado.

“Como se já não desse muito trabalho chocar os ovos!” Disse a pomba, “Sem precisar ter cuidado com serpentes dia e noite! Porque? Eu mal consegui dormir essas três semanas!”

“Sinto muito que você tenha ficado incomodada.” Disse Alice, começando a entender.

“E bem quando eu peguei a maior árvore da floresta,” disse a pomba aumentando o tom da voz”e já pensava que finalmente estava livre, precisava vir uma do céu! Ugh! Serpente!”

“Mas eu não sou uma serpente!” Disse Alice, “Eu sou uma—Eu sou uma”

“Bem! O que é você?” Disse a pomba. “Vejo que está tentando inventar algo.”

“Eu—Eu sou uma menininha.” Alice disse com um pouco de dúvida, enquanto lembrava do número de mudanças que ela havia passado.

“De fato é uma história provável!” Disse a pomba, “Eu já vi muitas garotinhas, mas nunca uma com esse pescoço! Não, você é uma serpente, eu já sei bem disso! Imagino que você vai me falar que nunca provou um ovo!”

“Eu já provei ovos, certamente,” Disse Alice, que era uma criança bem sincera, “mas eu não quero os seus. Eu não gosto de ovos puros.”

“Bem, então caí fora!” Disse a pomba que então voltou para o seu ninho. Alice se agachou entre as árvores, o melhor possível, já que seu pescoço se enroscava nos galhos e por várias vezes ela teve de parar para se soltar. Logo ela se lembrou dos pedaços de cogumelo que ela ainda estava segurando e começou a agir com cuidado, lambendo um e então o outro, crescendo e diminuindo, até que ela conseguiu voltar ao seu tamanho original.

Já fazia tanto tempo desde quando ela tinha seu tamanho certo que ela até se sentiu estranha num primeiro momento, mas ela logo se acostumou em um ou dois minutos e voltou a falar consigo mesma: “Bem! Metade do meu plano já está feito! Quão confusas todas essas mudanças são! Eu nunca sei o que vou ser dum minuto ao outro! Entretanto, eu voltei a ter meu tamanho normal. A próxima coisa é: como chegar naquele lindo jardim—como isso será feito, me pergunto?"

Bem quando ela disse isso, percebeu que uma das árvores tinha uma porta. “Isso é muito curioso!” Ela pensou. “Mas hora tudo é curioso: talvez eu até passe por ela”. E ela foi.

Mais uma vez ela se encontrou no longo salão e perto da mesinha de vidro: “Agora vou tentar fazer melhor do que da outra vez”, ela disse para si mesma onde começou pegando a chavinha dourada e destrancou a porta que levava ao jardim. Então ela comeu os pedaços de cogumelo até que ela estivesse com trinta e oito centímetros de altura. Ela foi passar pela pequena passagem e então—ela finalmente se encontrou no lindo jardim, entre seus canteiros de flores brilhantes e fontes legais.