Foi ao pé do arvoredo,
Sob esta sombra orvalhada,
Que um dia, muito em segredo,
Vim esperá-la na estrada
Mudo, ansioso, palpitante,
Por longo tempo esperei-a,
Cuidando ouvir, todo instante,
Seu leve passo na areia.
Eis que ela, muito assustada,
Surge, trêmula e confusa,
Com fresca rosa encarnada
Florindo as rendas da blusa.
O sol, como um poeta risonho,
Doirava o céu, alto e escampo;
E nós, perdidos num sonho,
Fomos a rir pelo campo.
Que festa pelo caminho!
Que sons! Que luz! Que esplendor!
Gorjeios em cada ninho,
Abelhas em cada flor!
Ela, a correr pelo atalho,
Pisando a verde barranca,
Umedecia de orvalho
A barra da saia branca...
Eu, que a levava de braço,
Todo amor, todo ansiedade,
Sentia-me, passo a passo,
Morrer de felicidade!
Foi uma linda jornada
Por montes e carreadores...
Ai! Cada sombra na estrada.
Ai! Cada moita de flores,
Tudo servia de ensejo,
Para eu, com a alma radiosa,
Colher a rosa de um beijo,
Naquela boca de rosa!
Mas hoje - tudo desfeito...
De tanta ingênua poesia,
Ficou-me apenas no peito
A mágoa que me excrucia
Recordação leve e mansa,
Saudade que eu não arranco
É a deliciosa lembrança
Daquele vestido branco...
Pois nada, ó flor, se assemelha,
Nem tem a frescura e a graça,
Daquela rosa vermelha
Naquela blusa de cassa!