Vi sobre o monte sangue, ao longe, à madrugada,
E começava o sangue a encher o espaço agora:
Crê-se em nuvens limpar alguém o sangue à espada
Com que tinham talvez decapitado a aurora.
Quem canta pelo vale, e pelo céu quem chora?
Há sangue embaixo, em cima: a relva está molhada;
Anda o sangue a escorrer mais e mais de hora em hora;
Que ninfa em oiro e luz desceu amortalhada?
E enquanto indago, vejo enrubescendo a crista
Da serra, como se um Valdês, se um grande artista
Lançasse à tela um crânio ainda palpitante,
O sol cair, rolar, como cabeça morta
De um deus vencido, que jogasse um deus triunfante
Pelo vão da arquivolta amplíssima da porta.